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Formação cultural

 

Paris, 3 de Outubro. O que impressiona nos quadros políticos da França é a formação cultural da quase totalidade dos membros da Assembléia Nacional e do Senado da República. É comum na relação de nomes dos representantes com assento nas duas câmaras ver os títulos de que são possuidores. Como Giscard D’ Estaing, que tem cinco títulos, Chirac, com três e Mitterrand, que também tinha três. Portanto, um país onde as câmaras de representação popular são constituídas de pessoas altamente dotadas de ciências e letras, que as habilitam conhecer em profundidade os problemas nacionais e internacionais relacionados à França.


Um único caso de que me lembro suscitou espanto nos meios de comunicação e também no político. Foi a escolha pelo então presidente Giscard de um homem prático que não tinha título algum para a pasta de Economia.


Essa singularidade provocou a corrida da televisão, do rádio e da imprensa ao estabelecimento de que era proprietário numa cidade do interior da França. Diga-se de passagem, uma pequena oficina mecânica. Declarou, simplesmente, que no ministério iria ser uma modesta dona-de-casa, isto é, pegaria o orçamento nacional como se fosse o orçamento doméstico e iria equilibrá-lo com uma receita sempre maior que a despesa.


Mas essa situação da representação francesa ser altamente intelectualizada não limita na política cotidiana do país as pequenas mazelas, que somadas ficam grandes, característica da partidocracia em geral. Isso nos consola porque, como temos dito nesta coluna, a política brasileira é, lamentavelmente, destituída de princípios, para não se falar de substância cultural, da qual está longe.


É esse o ponto fraco, enormemente fraco, da política brasileira.




Diário do Comércio (São Paulo) 18/10/2005

Diário do Comércio (São Paulo), 18/10/2005