A posição do PSDB do Estado do Rio contra a privatização da Cedae, que afinal foi aprovada sem o apoio dos tucanos, é uma demonstração clara de como nossos partidos políticos não obedecem a programas nem têm uma linha de ação coerente em suas várias representações regionais.
O presidente do partido, senador Aécio Neves, criticou publicamente a posição dos tucanos do Rio, que passaram uma imagem de arrependimento da tese da privatização, quando na verdade o que os levou a tentar barrar a privatização da Cedae foi simplesmente um populismo que não se coaduna com a história do partido.
A bancada, através do deputado Carlos Roberto Osório, candidato do partido na recente eleição para prefeito do Rio, tentou explicar sua posição alegando que a decisão de privatização foi feita “em cima das pernas”, de afogadilho, e os tucanos acham que seria preciso um amplo debate com a sociedade para definir os termos da privatização.
Além disso, alegam que a privatização não resolverá os problemas financeiros do Estado do Rio, servindo apenas para pagar a folha salarial dos servidores durante um ou dois meses. O raciocínio poderia funcionar se o Estado tivesse tempo a perder com debates técnicos que não estão na hora de acontecer.
O próprio PSDB nacional soltou uma nota pelo Instituto Teotônio Vilela afirmando que as discussões técnicas sobre a privatização serão feitas posteriormente, através do BNDES, e não caberia à Assembléia Legislativa do Estado do Rio tratar de assuntos técnico, que serão avaliados de acordo com parâmetros internacionais, respeitando as obrigações da concessão, como foi feito com sucesso em diversos setores privatizados.
O PSDB do Rio, colocando-se contra a privatização da Cedae, acabou se posicionando contra o interesse de uma sociedade que é mal servida no setor, principalmente os bairros mais pobres e as comunidades carentes, que têm esgoto a céu aberto. Mas também áreas nobres como São Conrado e Barra da Tijuca não têm esgoto tratado.
O lamento do PSDB nacional refere-se também à imagem do partido, que abriu uma era de privatizações no país que trouxe benefícios inquestionáveis, especialmente na telefonia celular, e regrediu com a posição populista de sua representação no Rio.
Com o Estado quebrado financeiramente pelo desperdício do dinheiro público e corrupção agora revelada em escala monumental, a Cedae não terá condições de fazer os investimentos necessários, e barrar a privatização seria impedir que investimentos privados pudessem realizar as obras tão necessárias, inclusive a despoluição da Baía da Guanabara, essa chaga eterna que já consumiu bilhões de dólares sem que os resultados sejam minimamente aceitáveis.
Na época das Olimpíadas, quando ficou claro que a promessa de despoluir 80% da Baía da Guanabara não seria cumprida, o governo do Estado, que ainda vivia de aparentar uma modernidade de ações que escondia o velho patrimonialismo da política brasileira, admitiu que não tinha condições de realizar a tarefa de despoluição sem a ajuda do setor privado.
Em 20 anos, os programas de despoluição da Baía de Guanabara já haviam consumido R$ 10 bilhões em empréstimos, e o governo dizia que ainda precisaria de mais 20 anos, e pelo menos mais R$ 20 bilhões, para recuperar toda a área.
Agora que a casa caiu, e revelou-se a verdadeira face do grupo político que ainda está no governo, a quebradeira geral do Estado leva à privatização da Cedae como passo essencial de um programa de ajuda federal. O PSDB do Rio, com o raciocínio torto de quem pensa que fazer oposição é torcer para que nada dê certo para o adversário que está no governo, esqueceu-se de que é o Estado, e não o governo, que precisa ser recuperado.