A cada livro do teólogo e escritor Faustino Teixeira adquirimos novas potências ecumênicas e toda uma saudável inquietação em torno das núpcias com o Amado. Como quem restaura as pontas de uma prisca e de uma tarda theologia ou, em outras palavras, a tradição e as malhas do percurso místico, de saltos e abismos, conjugados no plural, quando diminui a tensão dos fios, nas demandas que se alternam entre o mapa e o relevo, o sistema e a aventura. Porque cada biografia mística é matéria intransferível e ao mesmo tempo fonte de partilha, porque o bem, como diziam os antigos, é sempre difusivo.
As pesquisas de Faustino não se desvinculam de uma visão serena que consiste em reconhecer a mútua dependência dos extremos, a mística e a religião, sem desconsiderar a gramática difusa, ponto de partida, sobre a qual a experiência mística instaura uma segunda língua, um léxico específico, um lúcido desvio da norma. Faustino tem a clareza do processo e o refinamento de uma cultura literária que o leva a enfrentar modos ambíguos, tantas vezes porosos e oblíquos, como no êxtase de Teresa, no abismo de Eckhart e no mergulho oceânico de Teilhard, mas sempre mediante a poética do encontro e do irredutível.
Faustino Teixeira não perdeu a capacidade do espanto.
Suas páginas parecem um diário de redescobertas, uma agenda de passagens e aproximações, pontuada por um crescente entusiasmo, que desborda para ser compartilhado, como dádiva e prebenda, memória diáfana do itinerarium mentis e projeção irreversível da imago cordis. Para Faustino Teixeira, não há como separar a realidade bifronte, a condição mista, que propicia um alcance mais profundo às dimensões da linguagem mística, a gestos e silêncios, dislates e contradições, que desaguam numa fonte de água cristalina ao redor da qual seus personagens, todos Gottbetrunken, todos ébrios de Deus, não cessam de buscar o Rosto perdido.
Por fim, a obra de Faustino se inscreve numa paisagem comparatista, inter-religiosa, de paralelismos e analogias que implica outra modalidade, outra espessura aos místicos do cristianismo. E não o faz para esvaziá-los do alto potencial que os singulariza, como se fossem meros retransmissores de uma mesma estação, mas para sinalizar recortes da mística comparada que favorecem o diálogo e as linhas essenciais que demarcam o vigor de biografias solitárias. Vidas paralelas. Encontros improváveis.
O livro A fonte do amado pode ser também um livro de memórias, escrito em terceira e interposta pessoa, pois quem fala da fonte do Amado reclama de algum modo as parcelas inabordáveis de sua própria sede.