Temos teoria firmada, a fome só será vencida pelo desenvolvimento, sobretudo no esquecido Nordeste, dos açudes privilegiados, das secas que enriquecem malandros e outras formas de desviar o dinheiro destinado a obras de importância inadiável, mas adiadas há um século. A fome zero, do grito de arranque, sem dúvida de curto vôo, do presidente Lula da Silva, quando tomou posse, o mundo inteiro repetiu seu grito, todos os jornais o elogiaram e, finalmente, não temos mais ouvido falar da fome.
Evidentemente, a fome zero não se realizou. Dirão os petistas que está sendo preparada a ofensiva contra essa crise endêmica que assola alguns milhões de brasileiros, pobres vítimas de governos com rumos diferentes das aspirações populares. Ver para crer, como anunciavam os circos de minha infância. O presidente da República não passou de Guaribas, no Maranhão, cidade que, de resto, prefere obras publicas do que o combate ao flagelo da fome.
O presidente Lula, segundo li no competente e bem informado jornalista Clovis Rossi, não estava preparado e ainda não está para exercer cargo de tamanha responsabilidade como a presidência. Essa, segundo o jornalista em questão, foi a tese defendida em artigo pelo cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, ex-arcebispo de São Paulo. Enquadra-se, portanto, no conceito expresso pelo grande Rui Barbosa, no prefácio de A Queda do Império .
Dito isso, acrescento que temos de ver em Lula o presidente e respeitá-lo como titular da mais alta posição do Brasil. Mas que cuide da fome, como deve ela ser cuidada, isto é, pelo desenvolvimento, notadamente do Nordeste. Enquanto não entrar na cabeça dos homens do governo que a fome tem um inimigo, o desenvolvimento, e desenvolvimento sustentado, sendo essa a única forma de combater a desventura dos famintos, os pobres, os esquecidos, os excluídos ou que outros adjetivos acrescentem os leitores nos meus. Em conclusão, é preciso revitalizar o grito inicial, da fome zero.
Diário do Comércio (São Paulo) 09/12/2004