O Carnaval do Rio, que dá régua e compasso para os Carnavais de todo o Brasil, com as exceções da Bahia e do Recife, teve duas fases: a de antes e a de depois de Fernando Pamplona.
Prêmio do Salão do Museu de Belas Artes (viagem ao exterior, no caso dele, para a Alemanha), durante anos cenógrafo do Theatro Municipal, liderando a troica que ganhou as ruas (Arlindo Rodrigues e Joãozinho Trinta), Pamplona trouxe para a festa mais popular do Brasil sua experiência teatral e sua formação intelectual e artística. Foi o melhor decorador das ruas da cidade, bebeu forte nas tradições afro-brasileiras, evitando clichês e apelações.
Sua carreira como cenógrafo foi marcada por grandes montagens, tanto na ópera como no balé. Lembro seus cenários para "Madama Butterfly" e, sobretudo, o trabalho de recriar aqui, no Brasil, os cenários que Picasso desenhou para "O Chapéu de Três Bicos", aprovados com entusiasmo pelo próprio Picasso e por Leonide Massine, que criou o famoso balé sobre música de Manuel de Falla.
Pamplona tornou-se um dos mais informados e honestos comentadores do Carnaval, tanto na Rede Globo como na Rede Manchete. Foi o primeiro a denunciar que os sambas-enredo se transformavam em marchinhas e lamentou a ausência cada vez maior dos negros nas fatias nobres dos desfiles.
Tive o prazer de ter a capa do meu primeiro livro feita por ele. Tive depois outros capistas no mercado editorial, mas a capa do Pamplona tem uma força que até hoje me impressiona. Só não gosto quando o intitulam de "carnavalesco". Ele é, acima de tudo, um artista e um caráter. (Esta crônica foi publicada em 24/2/2009. Republico-a em feitio de saudade. Foi um dos mais queridos amigos, que me foi roubado na semana que passou.)
Folha de S. Paulo (RJ), 1/10/2013