Li num de nossos periódicos cotidianos cartas de leitores, uns defendendo e outros acusando as feiras livres. Os primeiros, de que são úteis aos consumidores e os segundos que atrapalham a já caótica cidade de São Paulo de Piratininga.
Pois afirmo que ambos os lados têm razão, se formos pacientes na exposição do assunto e seus desdobramentos. As feiras livres, como sempre foram denominadas, foram instituídas no comércio de gêneros de primeira necessidade pelo prefeito Washington Luís, no ano remotíssimo de 1914. Portanto, de uma época em que São Paulo era uma cidade média, embora em desenvolvimento acelerado. As feiras livres vieram para atender às necessidades de abastecimento da população, especialmente a parte de rendas mais baixas.
O sucesso das feiras livres foi imediato. O prefeito ficou radiante, segundo seu biógrafo Celio Debes. Não havia, na época, senão uns poucos ricos, que não iam às feiras, mas às mercearias, como a Carioca e outras, espalhadas pelo território urbano pouco maior do que ainda denominamos centro. Os consumidores deram vivas ao prefeito e as feiras continuaram abastecendo a população.
Passaram os anos, passaram as décadas, passou o milênio, e as feiras livres continuam a abastecer a população, numa escala sem dúvida nenhuma gigantesca. Quem se der ao trabalho e não for às feiras para compras de gêneros, pode dar testemunho de que o número de compradores é de milhões. Isto porque as feiras se multiplicaram. São, portanto, úteis para os consumidores que desejam comprar gêneros frescos e de boa procedência na semana que as freqüentam.
Mas aí entra o argumento dos contrários às feiras. São Paulo é uma grande metrópole. O tráfego de veículos, enormíssimo, a tal ponto que estamos todos sujeitos ao rodízio e este nada adiantou para libertar a capital da tirania do automóvel, ou, se quiserem os leitores, do número elevado de veículos que circulam pela cidade e não raro são impedidos pelas feiras livres, como algumas de bairros altamente populosos.
Reconheço que o problema é sério, pelo número das feiras, pelo elevado índice de trabalhadores que são empregados dos feirantes e pela comodidade que prendem os fregueses desse comércio ativo e útil. Na realidade, em face da polêmica já aberta por meio de correspondência publicada num dos jornais da capital, não se sabe como resolver o problema.
As feiras são úteis e têm fregueses certos nos dias em que funcionam neste ou naquele bairro. Perturbam o trânsito e as comunicações numa grande metrópole, uma megalópolis como São Paulo. Devemos concordar com esse argumento. Mas, como resolver o problema, sem causar danos pessoais, sociais, econômicos e outros?
Diário do Comércio (São Paulo) 02/06/2005