RIO DE JANEIRO - Feliz a época que, em vez de um, produz dois logotipos. Vivemos um tempo em que as imagens valem mais do que as palavras e conceitos. A Guerra do Vietnã, com a sua crua obscenidade, ficou naquela foto da menina nua e queimada pela napalm. Bem menos trágica, mas reveladora do transe que agora vivemos, temos dois momentos que certamente não ficarão para sempre, mas enquanto durarem servirão de síntese de nossas agruras e penas.
A primeira imagem é a da ex-gestante que acabou na capa de uma revista, na realidade apenas um começo, pois a moça ameaça aparecer cada vez mais. Guindada subitamente ao patamar das celebridades, enquanto milhões de candidatas penam para conseguir os 15 minutos de fama, ela confia em que veio para ficar -e é bom mesmo que fique. Fez por onde, embora a fórmula que adotou não possa ser seguida por todas. É preciso ter mais coragem do que peito.
A outra imagem é mais complicada, mas igualmente reveladora do nosso tempo. Nelson Jobim, após anos de vida pública em que vestiu o terno formal de ministro e a toga de magistrado, desde que assumiu a pasta da Defesa ainda não se fixou num visual que o explique aos olhos da nação. Ainda não usou o macacão dos corredores da Fórmula 1 nem o uniforme do pessoal do Exército da Salvação, mas deverá chegar lá para mostrar a amplidão de suas nobres funções.
Há quem ache exagerada a sua exposição na mídia, segurando cobras e lagartos no meio da selva, inspecionando as misérias do Haiti e deixando rolar o seu nome para futura avaliação dos candidatos a candidato na próxima sucessão presidencial. Falta ressuscitar a tropa de Oswaldo Cruz contra a varíola, vestindo a farda de mata-mosquito para entrar e vencer a guerra contra a dengue.
Folha de S. Paulo (SP) 23/10/2007