Há muito uma intenção do presidente Bolsonaro não despertava o humor de tanta gente como o anúncio de que pretende indicar um filho, o 03, como embaixador em Washington. Primeiro, houve perplexidade e protestos de diplomatas, políticos e até juristas. O ministro Marco Aurélio, por exemplo, acha que seria “um tiro no pé”. No Senado, a oposição promete fazer tudo para impedir a aprovação do nome, alegando tratar-se de nepotismo.
Já a onda de piadas e memes surgiu logo depois que Eduardo apresentou publicamente suas credenciais, destacando o fato de já ter fritado hambúrguer no frio do Maine. A habilidade culinária exibida como atributo diplomático caiu logo nas redes sociais.
Se é assim, se isso é importante, começou então a gozação, e surgiram candidatos ao cargo para diversas capitais. Um escolheu Paris alegando já ter feito sanduíche de baguete. O escritor Marcelo Rubens Paiva reivindicou a embaixada de Londres porque já tinha feito café na cafeteira de um hotel daquela cidade. O rapper Marcelo D2 revelou que pretendia o posto de Lisboa por já ter fritado ovo em Portugal. O estilista Ronaldo Fraga, por já ter desfilado no Japão, se achava no direito de querer Tóquio.
Uma campanha inesperada foi a de #Gretchen Embaixadora. Embora não se revele se ela é capaz de cozinhar numa frigideira ou numa chapa, garante-se que fala inglês e mantém boas relações com os americanos.
Mas os primeiros postulantes à embaixada de Washington foram dois jornalistas. Aproveitando o bem-humorado programa “Em pauta”, da Globonews, os correspondentes Jorge Pontual e Guga Chacra apresentaram suas credenciais. Eles não são amigos do filho de Trump e nunca usaram o desempenho na cozinha para arranjar emprego, mas conhecem o país como se tivessem nascido lá e falam inglês com a correção que os Bolsonaros — o pai e os filhos — não têm em português. “Por que não eu?”, perguntou Pontual, como se fosse pra valer.
Diante da avalanche de críticas, Bolsonaro saiu-se com essa pérola, inacreditável: “Se está sendo criticado, é sinal de que é a pessoa adequada”.
Fala sério, presidente.