Não faz muito tempo, ouvi um cineasta declarar, mesmo sem pompa nem circunstância, que somente o cinema novo do Terceiro Mundo pode destruir o capitalismo, a globalização e os crimes ecológicos que estão destruindo o nosso planeta.
Já com alguma pompa e algumas circunstâncias, ouço, a cada dia, algum entendido declarar que o Brasil é a quinta, a quarta ou mesmo a terceira economia mundial, dependendo, é lógico, das citadas circunstâncias.
Como não entendo desses assuntos, faltam-me elementos para negar ou confirmar o grau de veracidade das duas afirmações. Quase nada conheço do cinema velho ou novo do Terceiro Mundo, admiro alguns filmes, mas não vejo neles nenhuma ameaça ao capitalismo. Pelo contrário: a produção e a distribuição, desde os tempos dos irmãos Lumière, são feitas dentro das regras fundamentais do regime capitalista.
Quanto ao ranking econômico, faço péssimo juízo da quase totalidade das nações que constituem o nosso mundo. Deve ser dramático o estado de miserabilidade de alguns países tidos como desenvolvidos (Suécia, Suíça, Reino Unido, Canadá, França, Alemanha etc.).
Em termos sociais e culturais, acredito que estamos na lanterninha ou perto dela. Não chego ao exagero de considerar que o nosso único fato realmente histórico foi o descobrimento (ou o achamento) do Brasil.
Numa visita a Berlim, levaram-me para conhecer uma biblioteca local. Consultei uma enciclopédia universal, fui diretamente ao índice, havia uma citação do Brasil com o número da página respectiva. Fui conferir. Havia realmente uma referência ao Brasil, a foto da nossa bandeira e cinco ou seis linhas, inclusive dando a latitude e a longitude do espaço que ocupamos neste mundo, vasto mundo.
Folha de São Paulo, 14/2/2012