“Tema polêmico, que envolve ciência e religião, até agora a eutanásia é condenada em sociedades que se consideram civilizadas. Não deixa de ser um assassinato, de contrariar o mandamento inscrito na fronte de todos nós: não matarás!
Sabemos que a morte é a única certeza da vida. A ciência pode prolongar ou melhorar a vida, mas todos os recursos tecnológicos e científicos têm um limite. Resta a questão: é justo deixar o ser humano sofrer além do tributo natural que devemos à carne, em muitos casos perdendo a dignidade a que todos temos direito, sobretudo no momento final e decisivo de cada um de nós?”.
Há tempos, escrevi um artigo na Ilustrada da Folha-SP sobre a eutanásia, tema que voltou às manchetes de todos os jornais por causa de um caso ocorrido na Itália, mulher ainda jovem, entrevada há 17 anos, em estado vegetativo e irreversível desde que sofreu um acidente. Plugada em diversos aparelhos, ela recebia a alimentação dos doentes terminais. Tive um parente próximo que passou por este transe. A comida é uma pasta amarelada, pastosa, parecida com a dos gatos, dessas que vêm em latinhas. Não tem gosto nem cheiro e, mesmo se tivesse, o paciente não teria condições de apreciá-los.
Jogada num tubo, ela vai diretamente ao estômago, levando os nutrientes essenciais, cuja finalidade não é manter a vida, mas prolongar a morte. Evidente que pode haver abusos por parte de médicos, enfermeiros e familiares interessados numa solução final que se aproxima realmente de um assassinato.
Mas, em teoria, a eutanásia pouco a pouco vem sendo aceita. Pessoas em bom estado de saúde deixam instruções para um final de vida mais digno e menos doloroso. Uma manifestação de vontade que já é válida para a cremação e que deve ser respeitada.
Folha de S. Paulo (SP) 12/02/2009