Sei que alguém perguntará “o que uma coisa tem a ver com a outra?” De fato, aparentemente, não há nenhuma ligação entre a construção da usina nuclear Angra 3 e os salários do magistério brasileiro. A não ser pela existência de abundantes recursos financeiros para o empreendimento (bilhões de dólares) e as desculpas de sempre: não se paga melhor aos professores por absoluta falta de dinheiro. Onde estão as nossas prioridades, do ponto-de-vista lógico? Ou até mesmo se levarmos em conta os interesses estratégicos do país?
No Seminário “Inventário da Educação Brasileira”, promovido na Bahia pelo Centro de Integração Empresa-Escola, o assunto foi candentemente debatido. Para concluir que não se pode almejar o aperfeiçoamento da nossa educação sem que se dê a devida prioridade ao fenômeno que atinge praticamente todas as unidades federativas. Os salários dos mestres continuam miseráveis, quase sem exceção.
Abordou-se também a questão da Qualidade. É difícil ser exigente diante desse quadro de carências. Acenar no PAC com o piso de 850 reais (se vier) é trocar seis por meia dúzia. O Rio de Janeiro paga 431 reais para professores em início de carreira, com o compromisso de 22 horas semanais de aulas. Se houver duas matrículas, como é comum, esse mínimo oferecido pelo Governo será inócuo como estímulo a um sistema achatado por tantos anos de injustiça.
Focalizamos depois a questão do estágio, que no momento é objeto de considerações contraditórias. Enquanto o projeto de lei no 993/2007 afirma que “o estágio de estudantes da educação superior, de educação profissional e de ensino médio constitui o ato educativo supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação metódica de educandos que estejam freqüentando o ensino regular”, há entraves à boa execução do mesmo, como a discussão infindável sobre o número de horas diárias que deveriam constituir a obrigação dos jovens (quatro ou seis horas).
O CIEE, com sua enorme experiência na matéria, posicionou-se a respeito do tema, com a sua vocação para os programas de estágio com qualidade. Segundo o presidente executivo Luiz Gonzaga Bertelli, aumenta no país o interesse dos jovens, assinalando-se o incremento de 22% de um ano para outro. Só em 2006 foram pagas pela instituição quase 2 milhões de bolsas-auxílio. Os números dessa atuação, na verdade, são impressionantes. Mais de 914 mil estudantes foram encaminhados para estágio, em 2006, o que dá um total de cerca de 7 milhões de atendidos, desde a fundação do CIEE, há mais de quatro décadas. Registra-se que 22 mil instituições de ensino atuaram em parceria, além da participação de 220 mil empresas privadas e organizações públicas conveniadas.
Afirmou-nos o especialista Luiz Gonzaga Bertelli que o CIEE hoje dispõe de cerca de 300 unidades operacionais localizadas estrategicamente por todo o país, com uma inovação importante: há mais de 314 mil inscritos nos cursos de educação à distância, o que dá bem a dimensão do sucesso do programa há pouco oferecido. É a fórmula da modernidade tecnológica para alcançar o maior número de interessados.
Jornal do Commercio (RJ) 17/8/2007