No mesmo dia que o O Estado publicava o artigo de meu colega de imprensa José Neumanne, a democracia brasileira está podre na raiz, o presidente da Câmara dos Deputados brindava seus colegas da Câmara com milhões de reais, para que eles engordem a conta bancária e passem dias melhores do que já passam, com os salários - antigamente subsídios - sem nenhuma consideração para com o povo que o elegeu, com maioria passando necessidades, como é fartamente sabido.
Autor de que não me lembro o nome neste momento em que escrevo, arrolou numa lista dezenas de definições de democracia. A nossa pode, também, entrar na lista, pois definições não faltam, como acaba de provar o jornalista em seu bem lançado artigo sobre o mal na raiz. O que se vê, enquanto, por exemplo, o Nordeste é povoado de sofredores, retirantes, flagelados, enfim, uma parte da nação que pena a vida que leva, enquanto os seus supostos representantes gastam a rodo e fazem trem de alegria ao deixarem o cargo.
Criticam-nos por vermos os males de que sofre o país. Não são poucos. Ao contrário, são numerosos, em todos os níveis do poder, na União, nos Estados e nos municípios. É por todos os lados um espetáculo que faz mal, embora estejamos habituados com ele. O que prevalece é o interesse, de preferência nas urnas, a fim de conservar por longo período de tempo na vida do eleito a sua reeleição, para continuar a gozar o privilégio de ser um mandatário eleitoral, em geral sem títulos de relevo.
Mas, pelo que vemos não há como mudar, pois todos falam e querem mudanças, desde que tudo fique na mesma, isto é, na situação em que o país se encontra com os problemas que o atormentam, notadamente a população de baixíssima renda, a maioria do nosso censo. Com isso vamos tocando a nossa vida sem ter a quem reclamar, quando outrora, ao menos, se reclamava ao bispo.
Diário do Comércio (São Paulo) 19/01/2005