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As esponjas de vespasiano

 

De tempos em tempos, gosto de citar Vespasiano, o imperador romano que se tornou notável, entre outras coisas típicas dos poderosos do mundo, porque taxou as latrinas de Roma. Seu filho achou que ele exagerava, foi reclamar e ouviu a famosa resposta: dinheiro não fede -"pecúnia no olet".


E tem mais. Não somente seu filho, mas muitos cidadãos honrados da capital do império achavam que Vespasiano permitia que seus funcionários roubassem descaradamente o dinheiro público. E nunca se roubou tanto, nem mesmo no Brasil de hoje.


Uma comissão de patrícios honestos pediu audiência e advertiu Vespasiano: toda a cúpula do império se locupletava de tal forma que mais da metade dos bens do Estado estava em mãos de corruptos, dos quais todos conheciam o nome, a função e o dinheiro que roubaram e continuavam roubando.


Vespasiano podia não ser um gênio, mas era cínico o bastante para ser imperador e dono do mundo então conhecido. Sua resposta foi entendida e, logo após, executada: "Deixo roubarem. Roubem o que quiserem e puderem. Sabemos quem rouba e quanto roubam. Nas calendas de agosto, que estão próximas, mandarei enforcar a todos, desapropriarei seus bens e tudo voltará ao erário. Eles funcionam como esponjas. Deixo que fiquem inchadas, depois espremerei todas elas. É uma forma fácil, barata e justa de arrecadar dinheiro sem aumentar impostos, sem sustentar uma rede imensa de cobradores. Basta espremer e o dinheiro pingará nas burras imperiais".


Adaptando as esponjas do imperador para os laranjas de hoje, podemos louvar o sistema tributário de Vespasiano. Não a respeito das latrinas, que a Receita Federal ainda não incluiu entre os serviços que devemos pagar, mas na simplicidade da recuperação do dinheiro público. Não será necessário enforcar ninguém, basta espremer a esponja e o laranja.


 


Folha de São Paulo (São Paulo) 11/2/2006