A mais antiga eleição de que me lembro foi a que selou o destino da República Velha, ou perrepista.
Foi eleito em Rio Claro, onde eu estudava e vivia, o farmacêutico Irineu Penteado, de velha família local. A homenagem que lhe foi prestada nos salão da Filarmônica, da elite da cidade, exigiu casaca e vestidos longos. Um luxo distante de Rio Claro, cidade de operários. Mas quem pode, pode, e o baile de consagração do candidato eleito foi deslumbrante, como assinalaram os jornais da cidade.
Depois veio a Revolução de 30, com a vitória de Vargas, a eleição de 1933, que deu a Constituição de 1934, partidária e classista, e a de 37, com o artigo 180, dando todo o poder a Vargas.
Depois tivemos os oito anos de Estado Novo, mais ou menos ignorado pela opinião pública e a nova geração de jovens que não se interessam pelo passado de sua pátria.
É a terrível crise originada pelo ataque dos meliantes do tenente Gregório, chefe da guarda pessoal, ao vigoroso tribuno Carlos Lacerda, quando voltava de um comício em companhia do maior aviador Ruben Vaz. O epílogo da crise foi o suicídio de Getúlio Vargas.
E tivemos a lei malaia, que daria o governo a Dutra e ao PSD e a outros partidos, catorze ao todo, depois reduzidos a onze. Foi a época em que brilharam os oradores e políticos da UDN, do PSD do PTB e outros. Mas a crise foi amainada pela Constituinte e em seguida pelas disputas partidárias.
Esse é um resumo, pois tenho limite de espaço nesta coluna. E quem quiser conhecer a história da época é fácil. Há livros nas bibliotecas públicas.
O que venho escrever é que a crise atual está superando as anteriores, pois se trata de um chorrilho de corrupções, das quais, forçosamente, o presidente Lula deve ter conhecimento, a menos que esteja inteiramente aéreo, por suas viagens o levarem para longe do centro do poder, onde atuam seus correligionários, como estamos vendo. Pela sua gravidade é mais extensa e profunda que as demais, que a de Collor, finalizada com a expulsão do presidente eleito do poder que ele maculava.
Agora temos um antigo torneiro mecânico bem sucedido na política, mas que ainda é amador de cargos da importância e da responsabilidade da presidência de um país continental.
É pena, pois Lula conquistou a simpatia das opiniões públicas com as quais ele teve contato. Mas agora é troppo tarde , embora lhe caiba dar solução à tremenda crise, que afetará a economia e, portanto, é problema de interesse de todas as classes.
Diário do Comércio (São Paulo) 20/06/2005