Está certo, mereço a gozação que estão fazendo com meu prognóstico de
Sustento que os croatas são ruins de bola, o que fez parecer que nossa defesa é impecável, notadamente no primeiro tempo. Mas admito que se, no segundo tempo, eles não fossem individualmente tão ruins assim, a gente podia ser o primeiro exemplo de uma lei da Natureza violada.
O quadrado mágico, como vocês viram, é mágico mesmo: quase faz com que a qualidade do futebol brasileiro desaparecesse, como aquelas moças que David Copperfield manda para o espaço. Ninguém por aqui, a começar pelos alemães, ficou satisfeito com o que viu. Os comentaristas alemães não foram muito condescendentes com a nossa exibição e até a cara do Ronaldinho, que se mostra sempre alegre, estava amarrada, no fim do jogo. “Decepção”, reclamaram os comentaristas unanimemente. “Os brasileiros não convenceram.”
E não convenceram mesmo. O próprio Ronaldinho, considerado por eles o nosso melhor (ou menos ruim, dirão os torcedores mais exaltados) jogador em campo ontem, continuou com sua misteriosa metamorfose, quando joga com a camisa da seleção. Fez um par de belas jogadas e quase um gol de cabeça, mas errou muitos passes e esteve longe de mostrar a exuberância, a velocidade e a visão de jogo que esbanja no Barcelona. Quanto ao Ronaldo Fenômeno, cujo semblante, depois de sua saída, era a imagem da tristeza e da decepção, foi o que se viu.
E foi também, para chateação pessoal minha, porque gosto dele, o alvo principal dos comentaristas. Não sei como isso foi calculado, mas um comentarista afirmou que, durante toda a sua participação, ele nem suou nem chegou a correr um total de dois quilômetros. “O boi do futebol” foi a designação que lhe arranjaram. Não concordo com isso, mas não posso negar que ele não jogou nada, nem Robinho teve tempo suficiente para mudar a cara da partida.
Bem, vamos admitir que o peso dessa estréia e da pressão contínua que os jogadores sofrem por todos os lados foram os principais responsáveis por essa estréia frustrante, mixuruca mesmo. Obrigação de ser o melhor do mundo e ganhar de qualquer jeito não é fácil para jogador nenhum. E, afinal, vencemos, continuamos no mesmo “futebol de resultados”. Ganhei até eu, que nunca mais faço previsões sobre placar nenhum. E o Brasil, já dá para notar, não é mais o favorito que era aqui. Rezemos.
O Globo (Rio de Janeiro) 14/06/2006