Uma das mais famosas expressões do educador Anísio Teixeira hoje deve ser reavivada: “O ensino médio brasileiro é um ensino órfão.” Ele reclamava, naturalmente, da pouca importância dada pelas autoridades e até mesmo por um grande número de educadores para o que deveria ser, na concepção dele, uma educação intermediária renovada.
Se há um grau de ensino, no Brasil, que anda rateando há muito tempo é o de nível médio. Assinalam-se feitos no ensino fundamental (mais de quantidade do que de qualidade), nossa pós-graduação é digna de ombrear-se com a de países industrializados, há boas perspectivas de avanços na educação infantil, mas o ensino médio representa uma entropia no sistema. Agora mesmo, há estranheza quanto ao número de reprovados em geral e também aos que abandonam os estudos, desinteressados do seu futuro profissional. Segundo dados oficiais, o índice de repetição em 2011 foi de 13,1% (é o pior desde 1999).
As causas? Podem ser variadas, mas algumas são pontuais. Por exemplo, o excesso de matérias nos confusos currículos existentes. Em nenhum lugar do mundo desenvolvido há tanta diversificação. O Conselho Nacional de Educação colabora para aumentar a confusão, quando sugere a incorporação demais Sociologia e Filosofia ao currículo. Não havia disponibilidade de tempos vagos para que isso acontecesse. Em algumas escolas públicas, essas duas matérias surgiram com a redução de aulas de Língua Portuguesa e Matemática. É claro que os resultados só poderiam ser desastrosos.
Os problemas do ensino médio se agravam em virtude da fase de transição por que passam os jovens, além da natural imaturidade proveniente da adolescência. Some-se a isso o desinteresse dos pais, na maioria dos casos, e estão criadas as condições para justificar o fenômeno, a que se deve agregar a falta de um bom programa de bolsas de estudo para jovens de baixa renda. É essencial criar um projeto seguro de financiamento estudantil, no ensino médio, como existe o Prouni para o ensino superior. Quem sabe, aproveitando a estrutura nacional dos Centros de Integração Empresa-Escola, que nos seus quase 50 anos de vida promoveram quase 10 milhões de estágios para os nossos jovens. É preciso sempre mais.
A Universidade Aberta do Brasil(UAB) já possui 639 polos de educação pública à distância, aproximando-se de 900 mil alunos. É um avanço considerável e a intenção da presidente Dilma Rousseff de ampliar o número dos atuais 38 Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia tem o mais amplo apoio da sociedade. Mas isso tudo é para quando? O ritmo dessas obras não é dos mais animadores. Já surgiu alguém fazendo graça com o problema que é sério: sugeriu-se entregar a coordenação das obras à Fifa. Ela sabe apertar o Governo.
Com Enem ou sem Enem, queremos um ensino médio mais inteligente, preparando os nossos jovens para a sociedade do conhecimento e da inovação. Deseja-se dar um salto no número de universitários brasileiros, hoje na casa dos 8 milhões. Isso não será alcançado com um ensino médio ultrapassado e desinteressante.
Jornal do Commercio (RJ), 15/6/2012