Boa entrevista concedeu à Veja o ministro Marco Aurélio Mello, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ele repetiu o que já disse em diversas ocasiões. Sua intenção merece aplausos, pois ele quer a purificação – a palavra é dele – dos homens públicos, o que está longe de ser entrevisto pelos leitores, pelos observadores, pelos analistas e pelos próprios políticos. Deve-se reconhecer que houve um grande progresso no cenário eleitoral brasileiro depois das eleições de 1945 até as últimas, para a Presidência da República. Mas, como reconhece o ministro, há muito o que fazer para se aprimorar satisfatoriamente a legislação e a conduta dos candidatos; sem dúvida, todos desejosos de ser eleitos. Citei há dias o saboroso conto de Machado de Assis, A Sereníssima República , a falsa república das aranhas, na qual o paciente Cônego Vargas obteve bons resultados.
Temos tido várias legislações eleitorais, o próprio ministro faz referência a impunidade que existe e que a meu ver é difícil evitar. Mas de impunidades está cheio o Congresso, como a vida pública e, enfim, como estão cheios os vários domínios da sociedade. Embora o ministro insista em fazer elogio ao combate à impunidade, não vejo, infelizmente, realidade num mundo político. Quem entra numa pugna eleitoral entra para ganhar, ainda que seja para fazer acordo com o diabo e esse comportamento não está sendo impedido pela legislação vigente.
O ministro mostra o progresso havido na legislação e no TSE, mas deve-se admitir que muito há o que fazer. A entrevista é boa, é positiva, é transparente, merece louvor, mas esperamos que possa ser cumprida e que não haja impunidade para o que a lei prescreve como crime eleitoral. É o que penso das palavras do ministro Marco Aurélio Mello.
Diario do Comercio (São Paulo) 14/06/2006