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Ensino: uma escola modelo no Rio

 

Não se trata de mais uma escola média, desprovida de originalidade. Já temos tantas, a maioria igualada nos mesmos serviços precários prestados à nossa população. Esta que aí vem, para funcionar em 2006, na Barra de Tijuca, terá a chancela do Sesc, o que por si só é uma garantia de cuidados especiais na sua montagem desde a origem.


Servirá de modelo do que pode a criatividade humana, na busca de uma educação qualitativamente apreciável. Referimo-nos à escola de ensino médio que se encontra em construção, na Avenida Ayrton Senna, sob a inspiração do empresário e professor Antônio de Oliveira Santos, presidente da Confederação Nacional do Comércio. Fomos testemunhas dos primeiros passos da escola.


Em sucessivas viagens à região de New England, nos Estados Unidos, berço da civilização norte-americana, Oliveira Santos conheceu a Suffield Academy, high-school de cerca de 150 anos, com hábitos muito definidos a respeito do que é um projeto pedagógico. Ensino sério, professores competentes, alunos de tempo integral, estudando com ênfase hoje em língua inglesa, história, filosofia e religião. O resultado? Os concluintes, de ambos os sexos, têm colocação imediata em algumas das principais universidades norte-americanas, como Michigan, Brown e Harvard. As vagas dependem apenas de simples entrevistas e não dos complicados vestibulares, de que não nos livramos no Brasil até agora.


Há particularidades nesse projeto que convém destacar. Uma delas é o número de alunos em classe, nunca mais de 15. A relação professor/aluno será saudável, permitindo uma troca de experiências que, de outro modo, terá pouca eficiência. Não é só a possibilidade de conhecer as pessoas envolvidas no processo pelo nome, mas a maior atenção dada no esclarecimento de cada dúvida, além da colaboração em eventuais problemas pessoais.


A educação média em Cuba também é de tempo integral, os alunos ficam na escola de segunda a sexta. A diferença é que as classes são bem mais numerosas - e aí naturalmente sofre a qualidade. Os professores são preparados em grandes escolas, com muito cuidado, não existindo maiores queixas quanto a isso. E o ensino é universalizado, ninguém fica de fora.


Voltando ao experimento pedagógico do Sesc, deve-se destacar a exigência de internato. Houve tempo em que muitas escolas, no Brasil, especialmente particulares, adotaram esse formato. A partir da década de 70, houve uma drástica redução no número de escolas internas, boa parte em virtude dos altos custos dessa manutenção e, por outro lado, pela liberdade que passou a marcar a relação ensino/aprendizagem. O internato saiu de moda, com ele também o tempo integral. O ensino, sobretudo público, passou a ser ministrado por migalhas. Se os alunos não tiverem tempo para completar os estudos da escola em casa, os resultados são bastante precários, como se pode verificar pelo quadro de entrada nas instituições de nível superior. A escola só não basta.


Pensando em tudo isso, o Sesc adquiriu um terreno de 130 mil metros quadrados, numa região privilegiada, com grande proteção ambiental (mais de 500 árvores) e, através de concorrência, escolheu o arquiteto Índio da Costa para desenvolver o seu projeto, depois de um vasto trabalho de aterro da área. Cerca de 500 alunos vindos de todas as regiões do país serão acolhidos em prédios próprios, assim como os seus professores (há previsão de 60). Meninos de um lado, moças de outro, evitando-se a promiscuidade que poderia colocar a perder toda a integridade do projeto.


Segundo os primeiros estudos realizados - e levando-se em conta experiências vividas no exterior - os alunos deverão contar com 10 horas de estudos e atividades diárias. A parte da tarde, depois do almoço coletivo, será destinada à prática de esportes e estudos adicionais, com o pleno emprego de recursos da informática e da robótica, além do estímulo à freqüência permanente da biblioteca do andar térreo, onde serão encontrados livros e periódicos numerosos e da maior atualidade. Ninguém acredita na eficácia de um projeto que não utilize intensamente os recursos do conhecimento.


Nas conversas com Antônio de Oliveira Santos e Maron Abib pode-se claramente perceber que o nível de exigência, na seleção e na contratação dos professores, será altíssimo. Até porque não será apenas a formação propedêutica que contará. Isso é uma parte. Vai-se exigir uma espécie de garantia, dos futuros mestres, de que serão eles capazes de elevar a formação moral dos seus discípulos, tornando-os cidadãos de primeira ordem. Se não for alcançada essa permanente simbiose, tudo poderá ser sacrificado. Não é o que se deseja.


 


Jornal do Brasil (Rio de Janeiro) 15/09/2004

Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), 15/09/2004