Duas declarações fundamentais para a política brasileira vieram ontem dos Estados Unidos, demonstração vigorosa de que o globalismo que os olavetes criticam é uma fenômeno irrecusável. Aliás, a própria participação dele na politica nacional é uma afirmação disso.
Ao afirmar, do Texas, que manterá a nova postura no relacionamento com os demais poderes da República, por exigência da maioria da população, o presidente Bolsonaro escalou mais um degrau no seu embate com o Congresso. O que ele está querendo explicitar é que o Congresso só age na base do toma-lá-dá-cá.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, se contrapondo em declaração em Nova York, durante reunião com investidores, garantiu que o Congresso fará a reforma da Previdência “com ou sem governo”, abrindo caminho para uma ação parlamentar autônoma, descolada do Palácio do Planalto.
Maia se mostra disposto a assumir um papel crucial nesse momento, o de um líder de centro liberal fiador dos compromissos de reformas, que passariam a questões de Estado.
Ele sabe que se o Congresso não aprovar uma reforma que permita o inicio de uma retomada econômica, vai ser acusado por Bolsonaro de estar agindo na base do fisiologismo, que não aprovaram a reforma por não ter dado os cargos que pediram. Sairá dessa crise como uma vítima da velha política.
O ronco das ruas, que já serviu para alavancar a candidatura de Bolsonaro por falta de opção, na quarta-feira se voltou contra ele de maneira expressiva. O enfrentamento rasteiro escolhido pelo governo para responder às pessoas que, aos milhares, protestaram em todas as capitais e em mais de cem cidades pelo país, demonstra uma avaliação equivocada do que está acontecendo.
Bolsonaro quer fazer crer que apenas os “idiotas inúteis” esquerdistas estavam nas ruas. É mais provável, porém, que estivessem nelas boa parte dos eleitores que escolheram Bolsonaro para se livrar do PT. Se os petistas e apoiadores da esquerda tivessem essa capacidade de mobilização, teriam saído às ruas para defender o “Lula livre”, ou a candidatura de Haddad.
Quem foi para as ruas quarta-feira demonstrou o descontentamento com o governo disfuncional de Bolsonaro, que se perde em picuinhas ideológicas e esquece os verdadeiros problemas do país, sendo a educação o maior deles.
Se é verdade que a performance dos nossos alunos nos exames internacionais como o Pisa tiveram uma queda assustadora nos anos petistas, indicando que o PT deu mais importância às medidas paliativas do que à qualidade, também não se vê nos primeiros passos do governo Bolsonaro nada que indique um projeto educacional promissor.
Os radicais estarão com Bolsonaro independentemente de qualquer novo gesto, mas ele já vem perdendo o apoio dos eleitores de centro, que temiam a volta do PT. Em uma campanha sem radicalismo, Bolsonaro disputaria com Cabo Daciolo a rabeira da eleição.
Os adversários que podem fazer frente a ele de verdade, como o governador de São Paulo, Joao Dória, o próprio Rodrigo Maia, especialmente se juntos em um novo partido de centro-direita que unisse o PSDB ao DEM, ainda estão perdidos, entre apoiá-lo, atrás dos cliques da internet, ou abrir novos caminhos.
Bolsonaro precisa de um PT forte, com discurso radicalizado, para construir o seu projeto de poder. Só com a esquerda forte se manterá como a opção dos não radicais de direita ou de centro. Por isso vive falando sobre “a volta do PT”.
Bolsonaro está em seu ambiente quando se digladia com o PT. Assim como na campanha o centro foi esmagado pelo radicalismo, também hoje não há uma liderança de centro, vigorosa, respeitada, que apresente uma saída fora dessa radicalização.
O país é de centro, circunstancialmente a radicalização politica está dominando o debate. Lula só chegou à presidência porque se aproximou do centro, e assim governou durante seu primeiro mandato. Fernando Henrique levou o PSDB para o centro, chamou o PFL para governar.
A característica do centro é a moderação, mas os extremos continuam em combate, o ambiente político pede radicalização. O que agrada a ambos os lados. Há um espaço politico importante a ser ocupado por uma liderança de centro que galvanize as ideias sensatas, um centro liberal, democrático.