A imprensa destacou em manchetes a ameaça do presidente Lula feita num comício de campanha eleitoral em Garanhuns, berço natal de Sua Excelência. Mais uma vez, revelando sua notável cultura futebolística, ele repetiu uma frase do treinador Zagallo: "Eles terão de me engolir".
Estranhamente, os jornais reduziram a declaração, talvez para poupar quatro letras no espaço da página, deixando a frase sem o sujeito. A ameaça foi veiculada como "terão de me engolir". Faltou o "eles".
Daí a pergunta que faço: "eles" quem, senhor presidente?
As elites, o capital estrangeiro, a imprensa, a CIA, Osama bin Laden, A Tradição, Família e Propriedade, o Fernandinho Beira-Mar, o Paulo Maluf, o cardeal Ratzinger, hoje reinante como papa Bento 16, o truste do petróleo, os bicheiros da Baixada Fluminense, o Bei de Túnis? Quem, afinal, são "eles", presidente?
Evidente que não se trata de uma referência sutil à turma de Valério, Delúbio, Dirceu et caterva, cujas maquinações conspiratórias chegaram a Portugal. E, segundo a ex-mulher de um deputado que recentemente renunciou ao mandato, passaram o pires para pagar dívidas do PT até mesmo na distante Twain, com quem o Brasil nem sequer mantém relações diplomáticas.
Lula e seus ainda fiéis seguidores reclamam do denuncismo da oposição e da mídia, reclamando que nada provam, não assumem as acusações, evitando dar nomes, ficando tudo em supostas tramóias trazidas a público por um deputado sem credibilidade.
Acontece que o deputado sem credibilidade mata a cobra e mostra o pau: dá nomes, cita fatos que em sua maioria são confirmados, apesar das negativas iniciais dos envolvidos, tal como aconteceu agora com o caso da Portugal Telecom.
A nação espera que o presidente Lula, destemido como é, e já comprometido com a reeleição, seja patriota e corajoso até o fim. Diga quem são "eles".
Folha de São Paulo (São Paulo) 06/08/2005