Li no "Estadão" que o Planalto quer saber o que os movimentos sociais do país "acham do serviço de inteligência brasileiro, que tem como órgão central a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), entidade que substituiu o extinto e malfadado Serviço Nacional de Informações (SNI)".
Embora não pertença a nenhum movimento, seja social ou não, faço péssima avaliação tanto do SNI como da Abin. Deixando para lá o primeiro, que já morreu, mas ganhou sobrevida no segundo, tive a surpreendente revelação dos crimes cometidos por mim e que a atual inteligência oficial informa aos interessados. Fiquei sabendo que, certa tarde, fui assistir a "A Hora e a Vez de Augusto Matraga", do Roberto Santos.
Manter um órgão inteligente para rastrear um admirador do Roberto me parece um desperdício, embora o fato deva ser verdadeiro. Que me lembre, vi o filme na cabine de uma distribuidora, mas o fato em si existiu, vi o filme, como milhares de brasileiros o fizeram.
Pasmo maior, provocado pelo relatório da Abin, foi minha tentativa de assassinar o marechal Castelo Branco no cemitério São João Batista.
Sempre que vinha ao Rio, o marechal-presidente levava flores para depositar na tumba de sua mulher -creio que se chamava Argentina, não tenho certeza. Eis que, enquanto o inconsolável viúvo cumpria ato tão pessoal quanto sentimental, dos túmulos, das cruzes, dos anjos chorando lágrimas de mármore, surgiu um nefando vulto, que era eu, armado não sei se de pistola ou se de punhal, para matar pelas costas o então chefe da nação.
Essa fantástica passagem de minha biografia está lá, com todas as letras, no relatório que a Abin enviou para instruir um requerimento burocrático que fiz no ano passado.
Curiosamente, a Abin não informou o que fizeram comigo após o atentado que não se consumou, não por falha minha, mas pela eficiência dos seguranças presidenciais.
Folha de São Paulo (São Paulo) 27/01/2005