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Educar para um mundo melhor

 

Com a reabertura das relações diplomáticas entre os Estados Unidos e Cuba depois de 53 anos de tempos turvos, esperase que a educação na ilha possa receber influxos positivos. Nem tudo é um mar de rosas no regime implantado pela família Castro.

Uma visita a Cuba, nas Antilhas, com 114.524 km², é grande experiência de vida. Não só pelo regime socialista que lá subsiste desde a Revolução de 1959, mas também pelos aspectos dramáticos que envolvem a sua cena política.

Em Cuba, jovens de ambos os sexos frequentam escolas públicas, com alojamentos separados para cada sexo, sem nada de luxo, mas dignos. Para Fidel Castro, “o sistema cubano de educação é o melhor do mundo”. Um evidente exagero. Melhor da América Latina talvez seja.

Os 2 milhões de alunos que se encontram nas escolas (a metade está no ensino superior) respondem, estudando com afinco, ao apelo expresso por Fidel na histórica e grandiosa Praça José Martí (professor e poeta, herói de outros tempos): “Educar para um tempo melhor”.

Há bibliotecas nos estabelecimentos de ensino, mas nos pareceram livros desatualizados. E os laboratórios são paradoxais: alguns bastante modernos, como vimos no
Colégio Lênin, nas cercanias de Havana, e outros bem antigos, o que naturalmente exige muito mais por parte dos professores.

Outro destaque a que não se pode fugir: em todas as escolas que visitamos, existe forte propensão a estabelecer a conexão entre educação e o mundo do trabalho. Fala-se muito nisso e pratica-se o entrosamento, de forma efetiva.

Há também um item que nos encantou: o rigor contra o uso de droga. Traficar maconha pode dar 5 anos de prisão e, se for cocaína, pode ser o triplo. Nenhum educador queixou-se de baixo desempenho em virtude da droga. Parece que realmente o problema não existe, o que é profundamente salutar se compararmos com o que ocorre na civilização ocidental dita desenvolvida.

As 350 escolas em regime de internato são distribuídas levando-se em conta a geografia da ilha. As escolas de ensino médio estão quase todas no interior, apenas 4% estão na capital, caracterizadas como escolas urbanas. As do interior são escolas do campo. Sempre ligadas a perspectivas de trabalho. Mas o currículo é o mesmo para todos, ditado pelo Ministério da Educação.

Apesar da precariedade dos recursos financeiros, sobretudo depois da debacle da União Soviética, orgulha-se de duas façanhas revolucionárias: os feitos na saúde e na educação. Todos têm algum tipo de educação nos vários níveis: círculo infantil (creche) (1 a 4 anos), pré-escolar (5 anos), primária (6 a 11 anos), secundária básica (12 a 14 anos), pré-universitária (15 a 17 anos) e universitária (a partir de 18 anos).

A maioria dos estudantes universitários encontra-se na Universidade de Havana. Há duas Universidades Pedagógicas, para formar professores e especialistas, em
cursos de quatro anos. Hoje, há empenho pioneiro na formação de professores múltiplos de 5ª a 8ª série, ou seja, um só professor capaz de lecionar para esse segmento, a fim de evitar a perda de consistência pedagógica quando os alunos saem do 1º segmento e são obrigados a enfrentar diversos professores. A experiência mostra maior eficácia quando as matérias são transmitidas por um só mestre, polivalente.

Ao perguntar à vice-reitora do Instituto Pedagógico Latino-Americano Caribenho o que é uma universidade, com quantos professores conta o país, a resposta foi 120 mil. Nós temos 2,6 milhões. Pude observar, nas escolas de nível médio, que não há grande apreço pela carreira do magistério.

Não há, notoriamente, emprego para todos. Mas todos completam, gratuitamente, o ensino superior. Haverá ociosidade à espera de milagre ou, então, supõe-se que muitos formandos, em cursos ditos de qualidade, mais tarde, de alguma forma, poderão trabalhar nos Estados Unidos ou no México. Quando isso acontece, quem perde é o país.

Há cursos rápidos para conhecer o sistema cubano de educação. Neste momento, 119 professores chilenos de matemática aperfeiçoam-se em Havana. Se o entrosamento vier sem a tentativa de ideologização, tudo bem.

Correio Braziliense, 17/01/2015