Estamos vivendo em pleno mundo digital. Embora ainda existam bolsões de pobreza, a verdade é que de 20 anos para cá a internet comercial é uma realidade, hoje com cerca de três bilhões de navegantes. Ter um celular passou a ser um direito humano para cerca de 5,2 bilhões de pessoas, que representam ¾ do mundo.
Quem não se adaptar à nova educação estará inexoravelmente condenado a fracassar. O analógico deixará de existir, cedendo espaço às inovações desse extraordinário mundo novo, com todas as atrações do formato remoto ou do já tão falado hibridismo. Isso não vai ocorrer por geração espontânea. Seguramente será fruto de um grande trabalho de renovação. Sairão na frente as escolas que tiverem esse espírito revolucionário. A acomodação não será premiada.
O MEC dessa vez não dormiu no ponto. Por meio da Portaria nº 544, autorizou a substituição das aulas presenciais pelo uso de recursos tecnológicos, inclusive prevendo atividades práticas e de laboratório, como é necessário. Assim se poderá evoluir no processo ensino-aprendizagem. A Universidade situou-se como centro de pesquisa acadêmica e não mais somente como fonte de atendimento ao mercado de trabalho. Dessa forma, como diz Juliano Costa, diretor da Pearson Brasil, “será estimulada a criação de novas habilidades. Assim se atenderá às volatilidades do mundo atual, com a oferta de um modelo mais fluido.”
O especialista Daniel Castilho é diretor da Anima Educação e vice-presidente da ABMES. Para ele, o aprendizado passou a ser focado na formação de empreendedores: “Estamos na era do pós-emprego, em que os profissionais vão trabalhar como free-lancers ou contratados por projetos. Eles precisam ser autônomos e motivados por um propósito, em contraposição ao modelo criado pela revolução Industrial, e com todas as suas características.”
Segundo Castilho, devemos considerar dois aspectos: como ensinar, com a incorporação da infraestrutura tecnológica, e o que ensinar, focando em conteúdo personalizado adaptado às exigências pessoais e profissionais dos alunos: “O indicador a ser criado para medir a eficiência é o aprendizado por hora de ensino. Assim se saberá o valor da Universidade avaliada. Não basta o conteúdo técnico, é essencial o equilíbrio, com o emprego das chamadas softskills. Devemos liderar a transformação local e melhorar a integração na comunidade.”
Já para Fábio Negreiros, que tem as mesmas e saudáveis preocupações, como desenvolve na Microsoft América Latina, devemos começar pelo letramento digital, a capacitação de técnicos, professores e alunos para o uso dos ambientes virtuais e da infraestrutura. É preciso que haja a adoção de um currículo de Inteligência Artificial nas instituições de ensino superior.
DIREITOS HUMANOS UNIVERSAIS
A Internet continua a crescer, inclusive porque Google e Facebook têm projetos sociais de implantar a benfeitoria em regiões carentes. É uma forma de valorizar o que entendemos por direitos humanos universais.
Com a necessidade de atendimento educacional, sobretudo em países socialmente desfavorecidos, esses novos mecanismos abrem perspectivas de democratização de oportunidades como jamais se viu. Assim, pode-se ligar a Internet a uma escala planetária de ofertas, valorizando o conceito de direitos humanos.
A que se deve agregar as potencialidades da modalidade de Educação à Distância, hoje, em plena expansão, pois se trata de um fator reconhecidamente barato e eficaz. A EAD se vale dos avanços científicos e tecnológicos e tende a um crescimento explosivo, mesmo em nações subdesenvolvidas, onde as inovações custam mais a chegar, mas acabam se beneficiando também do progresso.
No Brasil, a modalidade está vencendo preconceitos iniciais e conquista cada vez mais estudantes. Hoje, o número chega a 1,8 milhão de matriculados. Há 1.200 cursos à distância no país e a alta nos vestibulares é bastante significativa: cresceu 80% nos últimos anos. O Ministério da Educação registra que há uma espécie de amadurecimento da modalidade, que atrai um número cada vez maior de adeptos, embora a maioria pertença ao ensino privado (cerca de 60% do total).
Como ocorre nos Estados Unidos, temos igualmente um modelo híbrido, com matérias presenciais e à distância. Verifica-se um fato digno de registro: os diplomas são iguais, mas os alunos diferentes. Há um esforço notável para que o aluno à distância seja levado a gostar da leitura, além de valorizar a interatividade. Há uma convicção generalizada, entretanto, de que é preciso melhorar a qualidade do ensino à distância e nisso os nossos mestres estão vivamente empenhados.
No Brasil
Data de 1904 a criação, no Brasil, dos antigos cursos por correspondência, que tiveram uma grande divulgação, com a criação do Instituto Monitor, em 1931, e com o Instituto Universal Brasileiro, em 1941. Tempos depois, na década de 70, o assunto foi tratado com muita determinação e seriedade, no âmbito do Ministério da Educação, graças aos esforços de Jarbas Passarinho e Newton Sucupira.
Com o surgimento de modernas técnicas, e também com a massificação da internet, virou moda um novo nome na área: Educação à Distância (EAD). Vale lembrar que no exterior a chamada universidade virtual conquistou seu espaço desde a década de 70. Na Inglaterra, por exemplo, a EAD é uma realidade e a Open University tem o respeito de todos.
Aqui no Brasil, somente em meados da década de 90, com a reforma realizada através da implantação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei no 9.394/96), a Educação à distância passou a ser reconhecida oficialmente.
A cultura é um processo, de que a educação faz parte. São grandes as carências brasileiras em ambos os campos. Fala-se em universidade pós-moderna, mas os nossos homens de pensamento ainda são tímidos, no reconhecimento da existência de uma cultura pós-moderna, amparada pelos recursos da Era do Conhecimento. Ela seria forte e de grande abrangência, permitindo que a diversidade regional ganhasse mais espaço, preservando as raízes da identidade nacional. Isso na literatura, na música, no teatro, no folclore, etc.
Chegamos à TV Digital. Além das estações de sinais abertos, já existentes, outras virão para dar cobertura ao Executivo, ao Legislativo e ao Judiciário, além da Educação, da Cultura e da Cidadania. Cultura para todos poderia é a visão geral do processo, que tem dois ganhos extraordinários, frutos da infindável competência de cientistas e pesquisadores: alta definição e interatividade.
Temos evidentes carências, embora se considere a cultura um bom negócio. O nosso povo se ressente de maior alcance do rádio, da televisão e do cinema, principalmente no interior do país. As raízes culturais em geral não são respeitadas na sua integridade e pureza. Com os mecanismos da educação à distância (EAD) é possível estabelecer um sistema inteligente de trocas, com vantagens para todos.
Na América Latina, o Brasil é um dos cinco maiores produtores de softwares para a área e o segundo país em número de alunos, perdendo apenas para o México, que possui universidades virtuais há mais de 30 anos.
Hoje, com o avanço tecnológico, os alvos da EAD passaram a ser os indivíduos que já estão inseridos no processo produtivo, com faixa etária acima dos 25 anos e problemas de tempo ou geográficos, para frequentar uma faculdade regular. São também gerentes de bancos ou de supermercados, por exemplo, que se matriculam nos cursos de educação à distância com o objetivo de melhorar o desempenho em seus trabalhos. E sem a necessidade de abandono de emprego ou de afastamento da família.
O esforço para integração de plataformas deve incluir softwares, equipamentos e serviços de telecomunicações. Somente entre os integrantes da Universidade Virtual Pública do Brasil (UniRede), que reúne 70 instituições, já existem 20 projetos estruturados. O próprio MEC também possui uma plataforma de educação à distância, chamada e-Proinfo. Num segundo momento, a iniciativa deverá incluir as universidades privadas.
Há diversas experiências em andamento, a partir de autorizações do Conselho Nacional de Educação. Mas o número ainda é pequeno para as imensas necessidades pedagógicas do país.
Uma experiência notável de EAD no Brasil está sendo realizada sob a liderança do Centro de Integração Empresa-Escola de São Paulo. No ar desde março de 2005, hoje dispõe de 37 cursos de curta duração, contemplando um total de 2,5 milhões de matrículas registradas.
O programa, em plataforma própria, é gratuito e tem por objetivo capacitar, aperfeiçoar, aprimorar e atualizar o estudante de ensino médio ou superior, além dos que se devotam à educação profissional. Isso facilita muito a inserção do jovem no movimentado mercado do nosso país.
Todo esse trabalho já rendeu mais de dois milhões de treinamentos, utilizando os seus cursos classificados como atitudinais, conceituais e técnicos. Os primeiros se referem a aspectos voltados ao desenvolvimento de atitudes e comportamentos essenciais do dia a dia, ambiente acadêmico e de trabalho. Os cursos conceituais operam assuntos variados sobre língua portuguesa (atualização gramatical, produção de textos), métodos e técnicas de pesquisa, atendimento ao cliente. Os últimos apresentam conteúdos voltados à tecnologia, como pacote Office, Fundamentos de Rede e Flash.
Há um grande envolvimento de empresas e instituições de ensino no projeto, que trabalha também com um formato de tutoria que promove a participação dos jovens em todas as etapas dos cursos, esclarecendo dúvidas em no máximo 24 horas. Para isso, a plataforma de gerenciamento é essencial.
São fornecidos certificados digitais gratuitos, assim como apostilas de apoio. O sucesso pode ser medido pelo crescimento expressivo do programa administrado pela Superintendência Executiva do CIEE/SP.
Entre os cursos oferecidos, podemos citar: Matemática básica, Cidadania e meio ambiente, Métodos e técnicas de pesquisa, e-mail e internet: uso adequado no ambiente corporativo, Microsoft Excel, o que dá um total de cerca de 30 mil matrículas/mês. Todos com o objetivo de capacitar, aprimorar, atualizar e promover o conhecimento, potencializando aptidões e talentos nas empresas. Nessa empreitada, o CIEE coloca toda a sua experiência de 55 anos, como entidade-líder no campo da filantropia.
O maior número de jovens encontra-se no estado de São Paulo, mas o atendimento se faz também em outras regiões, inclusive no Nordeste, onde é possível estabelecer um ambiente propício para o aprendizado e a construção do conhecimento de forma correta e agradável, pois conta com ilustrações de grande qualidade. Talvez esta seja a razão da existência de uma evasão diminuta, que se reduz a cada ano. São utilizadas palavras-chave estimulantes; são constituídas turmas especializadas, acompanhadas de uma tutoria altamente competente, que orienta os jovens e os incentiva a participar dos benefícios do aprendizado. A última conquista do projeto foi a entrada do Rio de Janeiro no circuito, com a adesão entusiástica do seu CIEE. Há um enorme interesse da sua população, que vê a educação à distância como um projeto de primeira ordem e de grande futuro.
Para que os resultados sejam positivos, sugere-se o estabelecimento de uma estratégia de marketing cultural, com a novidade de contar obrigatoriamente com os recursos advindos da maior circulação de ideias via EAD. Com o cuidado natural de evitar que, pelo exagero, haja a desfiguração das nossas raízes, bem ao contrário. Elas seriam fortificadas com esse grande reforço, o que tornaria o Brasil maior na sua integridade, enriquecendo todas as suas elogiadas atividades quando se trata de música, literatura, valorização da língua portuguesa, em colaboração com a Academia Brasileira de Letras, folclore (Reizado, Congado, Bumba-meu-boi etc), teatro, cinema, artes plásticas, dança, etc.
Temos associações, nessas áreas, que são fabulosamente competentes. O que a EAD pode trazer ao processo é um inteligente intercâmbio, com proveito geral. Educação e Cultura devem caminhar lado a lado, pois estreitam as relações com as comunidades, promovendo ações democráticas.
Modismos
Os modismos aqui chegam, com uma velocidade própria. Desde a época do Descobrimento, as cartas com as novidades demoravam mais de um mês, trazidas pelas valentes caravelas portuguesas. E alguma coisa para virar modismo, naqueles tempos, não era fácil. O primeiro jornal aqui circulou em 1808.
Há mais de 50 anos que se discute no Brasil o emprego da educação à distância. Outros países foram avançando na eficiente modalidade, como é o caso do Canadá, da Espanha, da Bélgica, da Inglaterra e da Austrália, entre outros. Aqui, depois de tempos espaçosos de preguiça (ou medo do novo), como o receio de que se tornasse um supletivo de terceira classe, felizmente caminhamos para uma reação favorável, a partir do que foi prescrito na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (no 9.394/96).
Hoje, há quase dois milhões de alunos brasileiros frequentando cursos via educação à distância, no nível superior, o que já é uma prova de que acordamos para o que é muito comum em Universidades no exterior.
Agora, a moda é citar a inclusão social, de que a digital obviamente é parte. Cerca de 25 milhões de brasileiros com mais de 16 anos têm acesso à Internet, mas devemos pensar que somos uma população superior a 209 milhões de habitantes. Ainda é pequeno o índice dos que têm esse privilégio, mais adstrito a escolas particulares, tornando bem visível o fosso entre incluídos e excluídos digitais, no quadro geral de pobreza do País.
PROFESSORES
Temos, no Brasil, cerca de três milhões de professores empregados (quase 500 mil no ensino superior), com a média salarial de 700 dólares na educação básica, o que é muito pouco.
Devemos valorizar a atuação dos professores e especialistas, não só aperfeiçoando os seus cursos de formação (providência urgente), como remunerando adequadamente esse serviço fundamental para os planos de crescimento do país. Será sempre difícil estimular os jovens da classe média a escolher o magistério com salários que são reconhecidamente dos mais baixos do mundo. A estimativa é de que, nos próximos 5/6 anos, possamos triplicar os números atuais. E, ainda, assim, estaremos abaixo de nações como as que foram batizadas de “desenvolvidas”.
A formação de educadores, sejam ou não tecnólogos, passa hoje pela dimensão técnica, a dimensão humana, o contexto político-econômico e a parte de conhecimentos a serem transmitidos, tudo isso resumindo no que se pode chamar de aquisição de competência. Esta abrange necessariamente:
- o saber e o fazer;
- a teoria e a prática;
- os princípios e processos da tecnologia educacional.
O tecnólogo deve ser um novo tipo de educador, cuja capacidade de ação esteja baseada em processo científico. Submeter o aluno simplesmente a uma exposição cultural não é suficiente. Esse novo educador dever ter o domínio dos aspectos técnico-pedagógicos dos currículos e da metodologia.
Atualmente, há um consenso do que seja um tecnólogo educacional. Enquanto um técnico dá ênfase à produção e usa métodos que não se adaptam à educação, o tecnólogo da educação precisa dispor de uma boa formação em humanidades, preparado para integrar novas técnicas a seu trabalho, em termos de atitudes, conhecimento dos meios de comunicação e suas possibilidades e ainda conhecimento dos objetivos didáticos. Ele trabalha com as circunstâncias a partir de um diagnóstico de necessidades que precisam ser satisfeitas.
Pode tratar-se de um professor para ministrar educação não-formal em programas de extensão agrária, como no Brasil, por exemplo, em zonas agricultáveis ainda não são totalmente aproveitadas devido à utilização de métodos obsoletos. Ou ainda precisa-se de um planejador educacional capaz de usar a televisão para reforçar métodos modernos de educação fundamental. Também pode ocorrer a necessidade de um profissional para utilização de jogos de simulação, no treinamento de administradores.
No Brasil, o termo “tecnólogo” parece estar destinado a egressos de cursos de Matemática Aplicada à Informática, Engenharia de Computadores, Comunicação e outros semelhantes, o que se constitui em uma concepção distorcida das possibilidades da tecnologia da educação. A multiplicidade de cursos relacionados com as áreas de Informática e Comunicação não resolve o problema dos nossos 14 milhões de analfabetos adultos nem as carências em outros setores.
Há ainda uma certa resistência, nos cursos de Pedagogia, quanto à adoção de tecnologias educativas em seus currículos. Para uma educação transformadora à altura do Brasil do tempo presente, a didática tradicionalista nada mais tem a introduzir. Já para atender a um compromisso pedagógico mobilizador, a tecnologia educacional pode ser a alavanca impulsionadora de que precisamos.
As maiores resistências ao papel do tecnólogo educacional estão mais nas pessoas e instituições do que na tecnologia em si. As empresas, por exemplo, adotam sem dificuldades a tecnologia sempre e quando lhes convém para aumentar a produtividade, a eficiência e, é claro, os lucros.
Nas escolas, o tecnólogo é visto como um usurpador das prerrogativas do professor. Este pode rejeitar o tecnólogo por ignorância ou por medo de inovação. Ou ainda, pode julgar-se um tecnólogo porque admite o uso do computador para ensinar o aluno a fazer contas. Como é mais interessante mexer com teclas do que com a cabeça, os alunos gostam mais e o professor não tem necessidade de esforçar-se tanto.
Mas isso não ocorre somente no Brasil. Muitos países que usam amplamente a tecnologia educacional viram-se obrigados a partir do zero diante da resistência e obstrução das universidades tradicionais. Como diz um anúncio:
“Afinal, já não se fazem mais casas como antigamente. Nem avião. Nem rádio, nem jornal. Nem mesmo bola de futebol.A tecnologia muda tudo, e faz tudo melhor.”
POLÍTICAS E ESTRATÉGIAS
Para que o tema ganhe continuidade, é importante que sejam levados em consideração os itens que propusemos ao Conselho Nacional de Educação através da Indicação no 6/96, em que se previa a criação de um Sistema Nacional de Educação Aberta e à Distância; antes, é de nossa autoria a Indicação no 1/86, do Conselho Federal de Educação, sobre Informática na Educação. Um documento pioneiro, com algumas sugestões importantes:
01 - Estabelecer a Política Nacional de Educação Aberta e à Distância, no âmbito do Conselho Nacional de Educação, integrando o Plano Nacional de Educação;
02 - Estimular a experiência da Universidade Virtual, com a oferta ilimitada de cursos não-presenciais e a ampla utilização de endereços eletrônicos;
03 - Integrar os esforços das redes nacionais de rádio e televisão educativa, a fim de dar suporte aos projetos de treinamento de capacitação de profissionais, nos níveis médio e superior;
04 - Criar a primeira experiência-piloto na área do magistério, qualificando professores e especialistas, com ênfase no emprego da informática na educação;
05 - Treinar profissionais de multimídia (roteiristas, engenheiros de software, produtores visuais, animadores, produtores de vídeo, fotógrafos, locutores, dubladores etc, todos eles constituindo o que hoje chamamos de profissionais de newmedia);
06 - Orientar a produção de softwares educativos no País, para distribuição nas escolas públicas, com vistas ao aperfeiçoamento da qualidade do ensino (ênfase na educação básica);
07 - Elaborar uma estratégia nacional para o ensino por correspondência, baseada nos princípios da educação continuada e em perfeita consonância com a realidade brasileira, preservada a qualidade dos serviços a serem prestados;
08 - Promover a formação de equipes multidisciplinares para a produção de programas;
09 - Ampliar o acervo das bibliotecas escolares, de modo a incorporar também vídeos, disquetes e outros materiais;
10 - Incentivar a produção de programas locais de rádio e televisão;
11 - Apoiar técnica e financeiramente programas e projetos de EAD, promovidos por instituições públicas de ensino e organizações da sociedade civil sem fins lucrativos;
12 - Aproveitar a infraestrutura de instituições de ensino de nível médio e superior para torná-las centros de EAD regionais e/ou estaduais;
13 - Incluir a modalidade de EAD nos currículos dos cursos de educação e de comunicação.
AS INOVAÇÕES DA LDB
Desde 20 de dezembro de 1996, entrou em vigor a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, com os seus 92 artigos.
Um dos temas mais ricos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei no 9394, de 20 de dezembro de 1996) é o que se refere à educação à distância.
Como procuramos demonstrar no livro LDB, a nova lei da educação (Edições Consultor, Rio, 1997), o assunto pode ser considerado a partir do Artigo 5º, parágrafo 5º, quando, de forma indireta, se afirma que “para o cumprimento da obrigatoriedade de ensino, o Poder Público criará formas alternativas de acesso aos diferentes níveis de ensino, independentemente da escolarização anterior.” Foi o primeiro desafio que se colocou diante dos nossos educadores.
Mais adiante, no Art. 32, diz-se que “o ensino fundamental será presencial, sendo o ensino à distância utilizado como complementação da aprendizagem ou em situações emergenciais.” É a entrada objetiva da modalidade no processo, embora a Lei tenha utilizado indiscriminadamente, como se fosse a mesma coisa ( e sabemos que não é) ensino à distância e educação à distância. Uma falha.
O ensino médio, com três anos mínimos de duração, “adotará metodologias de ensino e de avaliação que estimulem a iniciativa dos estudantes” (Art. 36) e por aí se vê que, indiretamente, também será possível o emprego da educação à distância, desde que de forma controlada, com autorização do respectivo Conselho Estadual de Educação e verificando-se ainda, para os alunos de EJA, que “os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos por meios informais serão aferidos e reconhecidos mediante exames.” (Art. 38).
O Artigo 40 cita a existência de diferentes estratégias de educação continuada, expressão sinônima de educação permanente. No capítulo da educação superior, o Art. 37, Parágrafo 3º, exige que seja obrigatória a frequência de alunos e professores, “salvo nos programas de educação à distância.” Há uma previsão de programas de educação continuada para os profissionais da educação dos diversos níveis (Art. 63) e o Art. 80 é bem claro quando determina que “o Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino à distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada.” As instituições do setor deverão ser especificamente credenciadas pela União, ou seja, pelo Conselho Nacional de Educação, em cooperação e entendimento com os diferentes sistemas de ensino.
Ainda no mesmo artigo, prevê-se que a educação à distância gozará de tratamento diferenciado, com custos de transmissão reduzidos em canais comerciais e concessão de canais exclusivamente educativos. No Art. 87 é possível prever a realização de cursos à distância para jovens e adultos insuficientemente escolarizados e programas de capacitação para todos os professores em exercício.
Ou seja, desde que garantida a qualidade, objetivo número um da LDB, pode-se caminhar para o pleno uso da educação à distância, prevista em nove artigos, direta ou indiretamente, no instrumento legal.
O respeito à educação como direito subjetivo, aliado ao incrível avanço científico e tecnológico, com a disponibilização de canais e satélites para a massificação da educação, sem perda da qualidade, são fatores que obrigam a uma nova atitude de adesão ao moderno, colocando o Brasil no rol das nações que aderiram com decisão à Sociedade do Conhecimento.
INDICADORES EDUCACIONAIS
Não se pode afirmar que o Conselho Nacional de Educação tenha silenciado quanto às orientações para a realização de aulas e atividades pedagógicas presenciais e não presenciais no contexto da pandemia. O Parecer 11/2020 desde 7 de julho é um guia precioso, elaborado sob a presidência de Luiz Roberto Liza Curi e tendo como relatora Maria Helena Guimarães de Castro. Os seus conselhos são extremamente válidos, com o objetivo de preservar a vida, diminuir desigualdades e desenvolver uma sociedade brasileira plural, assentada sobre princípios e valores de promoção da cidadania.
A volta às aulas poderá provocar uma perda de aprendizagem da ordem de 30% em leitura e 50% em matemática , o que exigirá desde logo um elenco de providências compensatórias, como aconteceu em outros países do mundo. Devemos proteger os nossos 48 milhões de estudantes de educação básica e os 8,5 milhões de estudantes de ensino superior, além de pensar principalmente nos nossos 2,6 milhões de professores. Sem eles, como garantir a qualidade necessária? Devemos estar preparados para o ensino virtual.
Como se afirma no parecer do CNE nº 5/20, devemos superar o desafio da grande desigualdade no acesso à internet e a dificuldade dos mestres em desenvolver atividades remotas. É indispensável investir na infraestrutura das escolas e na formação dos professores para o uso de novas metodologias e de tecnologias. Será muito comemorado o dia em que se possa garantir internet de alta velocidade a todas as escolas públicas.
Enquanto isso, vale a pena mergulhar a fundo no que representam as nossas 20 metas educacionais e os 57 indicadores do pouco respeitado Plano Nacional de Educação. O atendimento dessas prioridades não chega a 20% do total, o que indiscutivelmente é média muito baixa.
Há indicadores razoáveis na educação infantil, mas os itens despencam quando se trata de alunos dos 4 aos 17 anos com deficiência. Temos graves problemas com os alunos do 3º ano do ensino fundamental em nível de proficiência em Lieutra, na Escrita e em Matemática. Há providências oficiais para corrigir isso? Não são conhecidas.
É precária a escolaridade média, em anos de estudo, da população de 18 a 29 anos de idade, daí a triste conclusão de que temos a lamentar uma enorme geração “nem-nem”, aqueles que não estudam, nem trabalham. E isso vitima especialmente os mais pobres. Há também um elevado número de analfabetos acima dos 15 anos de idade, com predominância de negros.
No ensino superior, a situação não é menos grave. Houve expansão na concessão de títulos de mestres, mas não nos títulos de doutor. Temos nítida deficiência no percentual de professores que realizaram cursos de formação continuada.
Na parte política, há incríveis dissonâncias, como o fato de que somente 6% das escolas públicas escolherem diretores por meio de processo seletivo qualificado e eleição com participação da comunidade escolar. E a existência de lamentáveis absurdos na escolha dos Conselhos Estaduais e Municipais de Educação.
Prevê-se que o investimento em educação proporcionalmente ao Produto Interno Bruto deveria chegar em breve aos 10%, mas no ritmo em que andam as coisas isso é improvável que ocorra. Estamos em torno de 5,4%, com poucas probabilidades de aumento expressivo em virtude da crise vivida pela nossa economia, por causa da pandemia.
Como se pode concluir, esses Indicadores Educacionais constituem um verdadeiro programa de trabalho em que se deve empenhar, prioritariamente, o Ministério da Educação.
CONCLUSÃO
A crise do coronavírus provocou uma série de mudanças em nosso sistema escolar. O confinamento necessário levou à valorização da modalidade de educação à distância, onde já tínhamos algumas experiências notáveis. Na verdade, no Brasil, já são quase 2 milhões de alunos estudando online, num atestado de que trata-se de uma iniciativa muito bem sucedida.
A pandemia não tem prazo fixo, por isso a EAD tem que trabalhar a plena carga, em todos os níveis, como ocorre em 157 países, segundo dados da Unesco, em que férias foram antecipadas, ao lado do emprego de plataformas digitais e do ensino à distância. As Secretarias de Educação foram instadas a preparar materiais adequados, obedecendo às lições de John Dewey do “aprender fazendo” (learning by doing).
Estamos vivendo uma época de ruptura necessária, a caminho das transformações sociais exigidas pelo povo brasileiro. A educação entrou nesse processo irreversível. Atinge a universalização do ensino fundamental e agora vive a explosão de demanda do ensino médio, com as duas vertentes propostas na nova lei: o ensino médio propedêutico e a formação profissional que conduz à existência de técnicos formados em nível intermediário, como há muito reclama o nosso desenvolvimento econômico e social.
Os gastos do Governo Federal com o programa (que preferimos chamar de “investimentos”) passaram de R$ 1,1 bilhão, em 2010, para R$ 13,7 bilhões em 2014. Mas o ritmo de crescimento do número de alunos nas universidades privadas acabou caindo para 2,5% ao ano.
Não podemos e não queremos ser caudatários de nações pós-industrializadas ou dos surpreendentes e assustadores “tigres asiáticos”. A educação farta, generosa e de qualidade é o melhor caminho a ser trilhado, pois a especialização traz como consequência imediata os ganhos de produtividade.
O mundo vive a dicotomia cruel: de um lado, altas tecnologias e, de outro, mão-de-obra de baixa qualificação (no caso da China, com salários miseráveis pagos aos trabalhadores, provocando uma competição perversa).
O simples adestramento de trabalhadores não parece o ideal. Ele resolve questões de momento, com oportunismo, não levando a soluções duradouras.
A globalização da economia, muito boa para certos países, já nos trouxe problemas internos graves, como os que ocorrem na indústria naval, a indústria de brinquedos e a indústria têxtil. Apresenta-se uma perspectiva favorável para o Brasil em produtos agropecuários e produtos minerais (minério de ferro, bauxita e manganês).
Devemos levar a nossa política de recursos humanos a considerar todos esses fatos, na diversificação necessária. Sob esse aspecto, o papel do novo ensino médio é estratégico e essencial, podendo elevar a qualidade dos nossos produtos, valorizando a mão-de-obra indispensável e distribuindo melhor e de forma bem mais equitativa a renda nacional.
Concluímos afirmando que tudo será possível - e em curto espaço de tempo – se mantiver o empenho das autoridades e se professores e especialistas, numa escola renovada e com os equipamentos necessários, estiverem formados e dispostos, com uma remuneração mais compatível, a vencer esse desafio nada quixotesco. Assim poderá prevalecer, para o bem do País, o que vimos denominando de novo humanismo tecnológico.
Não é hora de desânimo. Ao contrário, é preciso estar atento ao tamanho do desafio imposto pelo destino. A crise certamente não será eterna. Em algum momento ela passará e, como num revezamento, devemos estar preparados para a retomada Do crescimento. A EAD emergirá disso tudo como um mecanismo (ou modalidade) com o qual devemos nos acostumar, para utilizar como reforço escolar. Mais uma vez, recorremos ao talento do escritor israelense Yuval Noah Harari: “Devemos aprender com a história para enfrentar os obstáculos.”