A crise política que atingiu o país, considerada uma das mais graves da História, com suas ramificações, tem ocupado tanto o espaço do noticiário e de nossa atenção que não vem permitindo mudar de foco, dando a impressão de que aqui, no nosso terreno, tudo anda melhor, o que não é bem assim.
O Rio — que na madrugada de hoje completou 22 anos da chacina de Vigário Geral, quando 21 pessoas, sem qualquer ligação com o tráfico, foram executadas por soldados da PM — melhorou sob vários aspectos, mas nem por isso se livrou de algumas de suas mazelas crônicas, como a violência urbana.
Temos agora uma política de segurança pública que, em tese, privilegia o respeito ao cidadão, um secretário que procura moralizar a polícia, uma proposta de ação bem intencionada e um inovador projeto de pacificação para as favelas, as UPPs. Por que então a violência continua sendo um dos nossos angustiantes problemas?
É preciso considerar que os primeiros efeitos da implantação das unidades em 2008 foram animadores, e continuam sendo em parte das comunidades pacificadas, o que é comprovado pelos moradores e pelas estatísticas, que registram acentuada queda dos homicídios, fim dos tiroteios, restabelecimento da ordem, liberdade de circulação.
Em alguns casos, chegou a haver redução de 85% nos homicídios. Parecia realizado o sonho do funk: “Eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci”.
Esta semana mesmo ele voltou a pedir ajuda de outras secretarias. Ao falar na OAB de Niterói, reclamou: “No morro, ninguém do poder público faz nada, só a polícia”. Mesmo quando havia uma certa euforia em relação às UPPs, a opinião mais realista era a dele, que advertia: a solução das favelas não está com a polícia. Ele sempre defendeu uma invasão de cidadania por meio de outros órgãos do Estado.
O governo precisa fazer alguma coisa para não deixar Beltrame sozinho e nós, sem esperança.