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É bom não esquecer...

 

Um estranho que observasse, do lado de fora, o planeta Terra, diria talvez que a sua história, monotonamente, sempre se caracterizou pela luta dos oprimidos contra o opressor e a tentativa de revanche dos dominadores contra os rebelados. Desde a rebelião dos Anjos contra o Senhor, passando pela desobediência de Adão e Eva, chegando até os séculos 19, 20 e 21 (que já está se revelando ser um dos mais ferrenhos).


Dar-se-á que o mundo sempre se viu dilacerado pela disputa do poder. Mas o que é o Poder, senão a força pelas armas, pela dominação religiosa, pela obediência forçada, mantendo os ricos nos seus palácios e os pobres na sua fome?


A gente não precisa falar nas lutas da Antiguidade, nas revoltas dos vencidos contra os vencedores, que explodiam incansavelmente desde as pequenas aldeias pré-históricas até os impérios que chegaram a cobrir continentes.


Falemos de mais perto, daqueles movimentos sobre os quais temos praticamente documentos pessoais. Da Revolução Francesa e das revoluções marxistas, que, por assim dizer, somos quase testemunhas de vista, tão perto ainda estão de nós.


Século 18: a tirania dominava a Europa e quase o resto do mundo, porém o seu reduto mais brilhante era a França, mestra das letras, da cortesia e das artes. Mas foi também a mestra do Iluminismo, semeadora dos sentimentos de dúvida, do raciocínio crítico e, em conseqüência, da revolta. Enquanto a Corte de Versailles nadava em ouro e champanha, o povo passava fome, para sustentar esse esplendor. E então rebentou a Revolução Francesa aterrorizando os reis vizinhos e espalhando pelo mundo a idéia da liberdade.


Prenderam-se os aristocratas, julgaram-nos sumariamente, e o sangue nobre correu pelas sarjetas de Paris, produzido pala nova máquina de matar, a guilhotina, invenção do dr. Guillotin. E, em seguida, do próprio coração da Revolução Francesa, surgiu Napoleão Bonaparte; e aquele que parecia ser o difusor das idéias novas pela Europa foi apenas um general de gênio, que sonhava - e tentava tornar-se o senhor da Europa inteira. E após tantas vitórias, perdendo seus soldados e a sua força nos gelos do inverno russo e no campo de Waterloo.


Vencido e desterrado Napoleão, chegou a vez da Inglaterra; já dominava a Índia e grande parte da Ásia e da África. Verdade que perdera os Estados Unidos, cuja revolução nacional fora contemporânea e associada da francesa, e criava outra fonte de poder e "maus exemplos" de rebeldia no continente americano todo.


O século 19 foi o século das Américas, enquanto a Europa lambia as feridas e remendava os rasgões dos seus mapas - dilacerados pelas guerras napoleônicas. O século 20 encontrou uma Europa relativamente pacificada. O Império britânico, cuja bandeira jamais via o sol se pôr, pois era desfraldada da Europa aos antípodas; a França, inquieta, já se armando; o alemão consolidando o seu novo império prussiano que já devorava quase toda a Europa Central. E começando pela Europa e chegando até ao Pacífico, se estendia o reino dos czares, a Rússia. Mas essa paz aparente trazia no seu bojo a semente da maior guerra em que se empenhara a humanidade que rebentou em 1914 e que se chamou a 1ª Grande Guerra.


Poucas décadas antes, contudo, na Inglaterra apareceu um judeu, por nome Karl Marx, que escrevera um livro cujo nome todos sabemos - O Capital - e com esse livro rebelou o operariado do mundo e desencadeou na Rússia a Revolução Marxista. O que ela representou mundialmente para os operários e intelectuais foi como um clarão de esperança.


O seu fim todos sabemos: a mais feroz tirania, que, paralelamente transformou a União Soviética numa grande potência e que acabou, como se viu, inesperadamente se esfacelando. Seguiu-se a 2ª Guerra Mundial, que só foi acabar no Japão com a bomba atômica sobre Hiroshima.


Daí para cá, criou-se a ONU, que foi uma grande esperança e que hoje apenas tenta sustentar uma paz aparente. As guerras de religião, as novas crucificações no Oriente Médio, tudo ferve, tudo sangra.


E agora estamos no alvorecer do século 21. Uma incógnita. Até onde pode nos levar nossa mesquinha, incansável, porque insaciável, ambição de poder?


Porém, tudo se resume a isto: o prêmio final se chama Poder.


 


Estado de São Paulo (São Paulo - SP) em 29/06/2002

Estado de São Paulo (São Paulo - SP) em, 29/06/2002