Será que a nomeação anteontem de um coronel para cuidar das redes sociais do Planalto vai aplacar a compulsão de Bolsonaro em gerar crises com a imprensa? Tomara. A última dele — ou penúltima, nunca se sabe — foi compartilhar uma acusação comprovadamente falsa contra a repórter Constança Rezende. O repúdio foi geral, não por espírito de corpo, mas pelo descompromisso com a veracidade dos fatos e pelo ataque à liberdade de expressão. A OAB, por exemplo, lembrou que “a imprensa livre é um dos pilares da democracia”.
O presidente está se expressando de maneira tão infeliz que precisa de alguém para desfazer os eventuais mal-entendidos de suas falas, tarefa que tem sido desempenhada pelo seu vice. O general Hamilton Mourão especializou-se em traduzir o que foi dito, ou melhor, o que se pretendeu dizer, revelando as reais intenções de seus discursos.
Ao afirmar que “há democracia quando as Forças Armadas querem”, a repercussão foi tão negativa no Congresso e até entre os militares que a desculpa do vice não funcionou ao dizer que “ele foi mal interpretado”. Outro general, o ministro Augusto Heleno, veio em socorro, alegando que houve uma tentativa de distorção da frase presidencial, argumento que se demonstrou inútil.
Sabe-se que nada disso abala o apoio que Bolsonaro tem nas redes sociais, onde é mais defendido do que criticado. Mas esse é um terreno minado sobre o qual é preciso andar com muito cuidado porque são frequentes as armadilhas e as pegadinhas.
A revista “Época” mostrou o quanto o presidente desrespeitou a liturgia do cargo. O inacreditável vídeo obsceno que ele compartilhou não era um “excesso de carnaval”, mas a performance de um ativista que defende a “sexualidade não normativa”. O resultado é que, graças a Bolsonaro, a cena presenciada por alguns foliões de um pequeno bloco foi vista por milhares de pessoas aqui e em vários países.
O autor da proeza escatológica, que se apresenta como Paulx Castello e/ou Sofia Lacre, foi uma das organizadoras do “Kuceta, festival de cultura e política dissidente”, realizado no ano passado em SP.
E o nosso presidente, quem diria, acabou servindo à causa da “sexualidade não normativa”.