O imprevisível e a velocidade com que o cenário político se mexe, às vezes para não sair do lugar, desorientam o observador.
Com a incerteza reinante, quem escreve para ser lido no dia seguinte corre o risco de ser desmentido ou superado pelos fatos. O imprevisível e a velocidade com que o cenário político se mexe, às vezes para não sair do lugar, desorientam o observador. Os que achavam, por exemplo, que a semana só ia esquentar a partir de hoje, com a aguardada votação no Senado da admissibilidade do impeachment de Dilma, tiveram uma segunda-feira de surpresas: acordaram com uma bomba e foram dormir com outra. Entre as duas, perplexidade e confusão. Tudo começou na calada da noite de domingo, quando três personagens se reuniram para anular o ato de afastamento da presidente aprovado pelo plenário da Câmara nos dias 15, 16 e 17 de abril: o titular da AGU, José Eduardo Cardozo, o governador do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB, e o presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão. Coube a este apresentar o resultado na forma de um ofício ao presidente do Senado.
A decisão produziu uma onda de reações que foram do deboche à irritação. O ministro Gilmar Mendes, do STF, classificou-a de “Operação Tabajara”. Renan Calheiros recusou-se a aceitá-la e disse que o colega estava “brincando com a democracia”. Eduardo Cunha, até ele, chamou-a de “absurda, irresponsável e antirregimental”. Deputados e senadores oposicionistas se revezaram o dia todo na tribuna repudiando o que classificaram como uma tentativa de golpe, aplaudida evidentemente pelos governistas. Em outras frentes, o presidente interino sofreu não apenas críticas, mas ameaças de destituição. Seu próprio partido, o PP, que o considera “incapaz”, fez saber que ia entrar com um pedido de expulsão e afastamento da presidência interina, sem falar na pressão para a renúncia.
Quando a República inteira discutia o que fazer com aquele estrupício, eis que explode a segunda bomba: no final da noite, em quatro linhas, Waldir Maranhão revogou sua decisão de anular a sessão da Câmara que autorizava a abertura do processo de impeachment. Em 505 palavras, as seis razões que baseavam o seu pedido de anulação não valiam mais nada, ele mudara de ideia, mesmo sem ter muitas. Já quase de madrugada, integrantes do governo foram à sua casa para tentar demovê-lo, mas não conseguiram. Bem que ele avisou que ia surpreender. Dilma, que se esforçou para disfarçar o contentamento ao receber a notícia da primeira bomba, não deve ter gostado nada da segunda. Talvez tenha sentido saudades de Cunha. Na Câmara, não há nada de tão ruim que não possa piorar.
Para os supersticiosos, a semana apenas começou. Ainda falta a sexta-feira, 13.