RIO DE JANEIRO - O Instituto Mundial de Pesquisa sobre a Economia do Desenvolvimento, entidade ligada à ONU, revelou na semana passada que mais da metade da riqueza mundial está nas mãos de apenas 2% da população.
O mesmo estudo informa que 50% dos mais pobres têm apenas 1% de tudo o que é produzido e consumido no mundo. O diretor do instituto, Anthony Shorrocks, deu um exemplo para mostrar o tamanho da desigualdade entre pobres e ricos: se a população global fosse reduzida a dez pessoas, uma ficaria com US$ 99 e as outras nove com US$ 1 restante. E comentou: "Os super-ricos estão ainda mais grotescamente ricos do que há 50 anos".
A pesquisa da ONU revela que "a riqueza está fortemente concentrada na América do Norte, na Europa e nos países de alta renda da Ásia e do Pacífico. Os moradores desses países detêm juntos quase 90% da riqueza do planeta".
Como se vê, sobram apenas 10% para o resto do mundo, inclusive dois continentes inteiros, a África e a América do Sul. Os dados são do ano 2000 e demonstram que a progressão da riqueza e da pobreza é quase geométrica. Daqui a três anos, em 2010, as riquezas mundiais deverão ficar na posse de apenas 1% da população.
O Brasil logicamente e geograficamente está entre os mais pobres, desmentindo os arroubos otimistas do nosso governo. Todos sabemos que a meta de crescimento calculada para o ano que vem (5%) não será alcançada com a taxa de juros e outros empecilhos que não deixam a nossa economia deslanchar.
A pesquisa da ONU não desce a detalhes, mas não se precisa deles para colocar o Brasil no seu devido lugar. Um pouco de humildade por parte de nossos governantes poderia ser um ponto de partida para mudarmos a situação em que nos encontramos.
Folha de S. Paulo (SP) 11/12/2006