Não sei como as coisas andam em São Paulo a propósito do segundo turno das eleições municipais. Parece que houve baixaria das grossas, com a candidata do PT pondo em questão a vida pessoal do adversário, que, por sinal, está em primeiro lugar nas pesquisas.
Aqui no Rio, passada a selva selvagem do primeiro turno, sobraram dois candidatos que estão levando a campanha em nível civilizado, sem agressões pessoais, apenas com os pontos divergentes naturais de políticos em campos opostos.
Não votarei em nenhum deles, mas, se pudesse, votaria nos dois ao mesmo tempo. Sou amigo de Gabeira, admiro-o desde que o conheci como chefe do Departamento de Pesquisa do “JB”. Nunca tive a oportunidade de conhecer Paes em carne e osso, mas sei que muita gente o respeita como administrador.
O que interessa é que, nos últimos pronunciamentos, os dois candidatos estão revelando um bom conhecimento dos problemas da cidade, fazem um diagnóstico quase comum de nossas mazelas e divergem pontualmente nas soluções de alguns casos, em outros convergem. Poucas vezes, na política municipal, tivemos dois pretendentes tão preparados para o cargo de prefeito.
Não preciso ser profeta para prever as dificuldades que encontrarão no dia-a-dia da administração. Desde os tempos de Estácio de Sá – que morreu envenenado por uma seta de índios que habitavam nossas bandas – o Rio tem problemas e mistérios que resistem ao tempo e às boas intenções.
O maior desafio me parece ser a questão da crescente favelização da cidade, que, direta ou indiretamente, tem algo a ver com a precária segurança de que dispomos. É um problema social, antes de ser um problema urbano. E a solução está num furo bem acima da gestão municipal.
Jornal do Commercio (RJ) 21/10/2008