Nas escolas do ensino fundamental, pelo menos uma vez por semana, o Hino Nacional deverá ser cantado pelos alunos. Nada contra esta medida cívica, mas toda vez que se fala em nosso hino, há uma enxurrada de críticas, sobretudo quanto à letra, que é pomposa e complicada.
A música, em termos técnicos, se salva e é bonita. Já mereceu transcrições sinfônicas e com o tempo tornou-se realmente uma referência concreta da nação. A letra é que, sendo complicada, é de difícil memorização e compreensão, sobretudo por parte dos jovens. Não conheço ninguém, mesmo entre adultos e cultas gentes, que não confunda as duas partes e daí a pergunta: por que duas partes? Uma só seria o bastante e evitaria constrangimentos durante as cerimônias, além de alongar desnecessariamente a solenidade.
Ary Barroso, que fez o segundo hino oficial do Brasil com a sua “Aquarela”, tinha um programa de calouros famoso no rádio de outros tempos. Ele perguntava sempre o que o candidato ia cantar e fazia um comentário qualquer. Um cidadão se apresentou: “O que vai cantar?”, perguntou Ary. O sujeito respondeu: “Vou cantar o Virandum!” Ary estranhou: “O que é isso? Mostre como é para o pianista poder acompanhar.” O calouro cantou baixinho para o pianista, e o Ary: “Virandum do Ipiranga salve, salve...”
Não faz muito, uma cantora popular se embananou cantando o nosso hino. E os diplomatas aqui credenciados, nos primeiros tempos de função, invariavelmente sentam-se após a primeira parte, acreditando que seja a última.
Por isso e aquilo, bem que o hino podia ser mais curto, respeitando-se a sua solenidade e os proparoxítonos que Duque Estrada espalhou pela letra, obrigado que foi a respeitar a bela melodia de Francisco Manuel.
Jornal do Commercio, 24/9/2009