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Discurso sem ataques

 

O discurso do presidente Jair Bolsonaro na abertura da assembleia da ONU não será bem recebido porque ele vai continuar defendendo suas ideias – por exemplo, como a de que o Brasil foi o país que melhor se saiu na pandemia do COVID 19. Mas pelas informações que circulam, a estratégia do governo será não confrontar as nações que criticam o Brasil. É uma boa ideia apresentar seus argumentos sem acusar os outros. Se for no tom contrário, vai ser crise diplomática séria, pois ali não é o palco para fazer política. Parece que Bolsonaro já entendeu isso e vai falar sobre temas fundamentais – mudança climática, preservação da Amazônia, apenas com o espírito de defender o Brasil sem atacar, por exemplo, os que o chamam de genocida devido ao combate à COVID 19. A Assembleia Geral da ONU começa nesta terça-feira e terá uma das suas mais estranhas sessões anuais, realizada quase inteiramente de forma virtual. 

Um manifesto de ex-chanceleres brasileiros apoia o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, na crítica à visita do secretário americano Mike Pompeo, que foi mesmo completamente absurda.  O Brasil aceitou fazer parte de uma manobra política dos EUA contra um país vizinho. Não importa que não se concorde com a Venezuela e até ache que ela é uma ditadura, mas não se pode usar o território nacional para atacá-la. Por causa dessa situação, a Comissão de Relações Exteriores do Senado quer barrar a sabatina de embaixadores marcada para hoje. Acho natural uma reação do Senado, que já chamou o ministro Ernesto Araújo para se explicar, mas barrar as audiências pode não ser atitude correta. Talvez fosse melhor sabatinar os embaixadores com rigor, o que não fazem, e talvez até barrar a indicação de alguns, se for o caso.

O Globo, 21/09/2020