A vitória do partido conservador de Cameron, na Inglaterra, surpreendeu pelo seu alcance frente aos prévios equilíbrios das sondagens, e pela nitidez de sua opção política. É um passo resoluto no avanço das direitas em toda a Europa. Começa por uma nova formulação do Estado, no contraponto à ideia que regeu as esquerdas e ao avanço do "welfarismo" no último meio século. Cameron anuncia a redução da máquina pública, eliminando a paga do imposto de renda para toda a população que só ganhe um salário mínimo, ou trabalhe 30 horas por semana. Garantirá, também, autonomias regionais inéditas ao País de Gales, à Irlanda do Norte e à Escócia. Depara-se, aí, todo um alento às forças separatistas, no repto, ainda de há poucos meses, do referendo escocês. Mais grave ainda é a proposta de plebiscito para sua possível separação da União Europeia. Desenha-se, assim, no conservadorismo britânico, o mesmo horizonte que, na França, já torna praticamente certa a vitória do partido de Le Pen.
Em todo o continente europeu há uma opção política convergente, com exceção da Grécia, onde, mais que a afirmação de uma esquerda, é a própria organização, atrasada, do Estado moderno que está em causa. Não escapamos, também, dos fantasmas do fundamentalismo, de torna da religião ao compromisso político, e, inclusive, na direta mobilização eleitoral. Não será outro, também, o impacto de toda essa virada nas próximas eleições americanas, e na marca do credo associado ao voto, que protagonizará, também, o candidato mais provável - um terceiro Bush -, na sequência das cruzadas que acompanharam a Guerra do Iraque e as invasões do Oriente Médio.
Neste horizonte inquietantemente regressivo, surge, numa solidão cada vez maior, a esquerda do governo brasileiro. Ampara-a o nosso aprofundamento democrático das últimas semanas: saídas do armário, as direitas não deverão mais voltar às ruas.