Não encontramos, em dias eleitorais, impacto de uma vitória antecipada como a de Dilma em outubro próximo. Não é só a estimativa do dobro de sufrágios frente a Serra, mas a da representatividade desta vantagem. Dilma ganha em todas as classes sociais, exceto - et pour cause -a dos mais ricos. É o que valida o caráter de voto-opção pela tomada de consciência do Brasil da redistribuição dos ganhos, e da mobilidade social chegada ao país dos destituídos.
Este sucesso já permitiria a candidata avançar, quem sabe, ainda na campanha, na proposta frontal de aumento de tributos desse grupo social que, com menos de 5% da população, detém praticamente a metade da renda nacional. Estes dados do Ibope mostram a nítida maioria de Dilma e podem ainda aumentar, tanto 36% dos setores mais pobres dizem que votarão em quem Lula disser, mas, não se deram conta ainda do comando do Planalto.
Começou o desarvoramento da oposição com a escolha de índio para vice do candidato paulista, a quem, paradoxalmente, o eleitorado brasileiro deverá ainda outro enorme benefício. Ou seja, o do desponte de uma direita feroz nas hostes tucanas, mostrando para onde vai o Brasil dos muito, muito ricos, frente ao atual situacionismo instalado no Planalto.
O inédito desta vitória pressentida de Dilma poderia ainda lhe conduzir ao reforço do apoio dos seus eleitores, já lhe permitindo um consenso prévio, para a nitidez da reforma tributária, ou para o decidido avanço da posição do Estado no controle do desenvolvimento, saindo, de vez, das meias palavras, ou das semi-imposturas do neoliberalismo econômico na matriz da nossa mudança. E tal, de vez, também, para trazer o capital bancário à economia produtiva e ao minicrédito, fora da tendência à especulação, e aos papéis mobiliários que fizeram o eixo da expansão hoje de sua lucratividade no país. É um novo divisor de águas que se abre no anticlímax de uma campanha enfeixada pelo "já ganhou" e, quem sabe, por um novo absenteísmo ou desinteresse no ir às urnas.
A tomada de posição prévia nessas temáticas lograria emprestar à vitória de Dilma um caráter de plebiscito, reforçando as premissas de uma nova esquerda a impor a sua voz ao Congresso. Sobretudo quando não serão os partidos os mediadores desta vontade popular, perdida a liderança do PT, exposto o PMDB como principal partido majoritário a toda tentação ainda do velho negocismo eleitoral em que poderá continuar inquie-tantemente o Legislativo, surdo à política de mudança da nova Presidente.
De toda forma, o que se espera do novo passo no Planalto, e na presente melhoria social do País, independerá das oligarquias que voltarem ao centro da Praça dos Três Poderes. E o PAC tem hoje - como vemos a todo mês - a capacidade de se impor aos velhos pactos de Estados e Municípios, em bem do dispêndio clien-telístico e eleitoreiro dos dinheiros públicos.
Não precisou a candidata, inclusive, repetir a prioridade do desenvolvimento sustentado e de como ele refunda economicamente a federa-" ção brasileira. E o dilema pró-Dilma, ou contra, começa agora a abalar candidaturas no Centro-Centro do Brasil, como Minas Gerais, que começa a desertar os tucanos, comprometendo até o que parecia impossível, na vitória das candidaturas de Aécio Neves. Por sobre as legendas, os partidos e suas combinazzioni, a avalanche pró-Dilma é a deste "povo de Lula" que pode pedir mais à candidata e aos seus primeiros meses de mandato, sem as mesuras e a paga de conchavos de um Brasil, de vez, perempto.
Jornal do Commercio (RJ), 27/8/2010