A candidata Dilma Rousseff deixou para sua sucessora o maior abacaxi da recente história nacional.
Por ora, não se pode nem se deve questionar a legitimidade do seu novo mandato. Tudo pareceu normal e até pacífico no episódio de sua reeleição. Ela chega novamente ao poder deixando para si mesma um legado que pode ser considerado abominável.
A começar pela corrupção, que recebeu uma bomba atômica nas vésperas do pleito. Ela foi acusada de ter tido prévio conhecimento do que se passava na Petrobras, um conhecimento que pode até ser considerado uma cumplicidade, dependendo da apuração honesta das graves acusações e suspeitas que, afinal, estavam na cabeça e na boca de boa parte da opinião pública.
Na melhor das hipóteses, caberá à sua sucessora provar e punir o órgão da imprensa que divulgou o escândalo que deu de 7 a 1 no anterior escândalo do mensalão. Será o indigesto "couvert" da sua nova tentativa de cumprir as maiores promessas feitas pela sua antecessora. Além de ficar marcada por sérias acusações, ela terá de decidir um problema inédito que não estava na sua agenda de candidata.
Ela não terá a alternativa de, logo no início de seu mandato, processar a imprensa ou olimpicamente não tomar conhecimento das acusações que também lamberam a túnica e as asas do anjo que a inventou. Se negar em bloco as acusações feitas ao governo da antecessora, por este e outros motivos igualmente sérios, ela enfrentará o inevitável problema da governabilidade.
A minúscula margem de votos que obteve contra seu adversário estará encravada em sua garganta pelos próximos quatro anos do novo mandato. Se não fossem as urnas eletrônicas, que até prova em contrário são confiáveis, haveria elementos para a recontagem de votos.