Fizeram para mim a pergunta do momento: “Você já sabe em quem vai votar pra presidente?”. Respondi que não, eu e a torcida do Flamengo, exagerando um pouco. Portanto, não fiquei surpreso quando a pesquisa do Ibope revelou que 38% dos eleitores estão indecisos, vão votar em branco ou anular o voto. E que há 20 anos isso não acontecia nesta altura da disputa.
O diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, especialista em cenários eleitorais, acredita que a eleição de agora será marcada por “recorde de rejeição aos políticos, por eleitores mais exigentes e por fake news para todos os lados”.
Pode-se alegar, porém, que já foi pior — o eleitor brasileiro, por pelo menos duas vezes, preferiu depositar na urna o nome de animais em lugar de pessoas. Em 1959, o rinoceronte Cacareco recebeu cem mil votos na eleição para a Câmara dos Vereadores de São Paulo, chegando a ser notícia de primeira página do “New York Times”. Em 1988, o fenômeno do candidato animal voltou a surgir, e um protesto agitou o Rio. Macaco Tião, um chimpanzé do Zoológico que atirava fezes nos visitantes, foi lançado candidato à prefeitura pelo Partido Bananista Brasileiro (PBB), uma brincadeira dos redatores do “Planeta Diário” e da “Casseta Popular”.
A repercussão foi tanta que, no dia do seu lançamento, Tião foi transferido para uma jaula isolada. Calcula-se que recebeu 400 mil votos, ficando em terceiro lugar entre os 12 candidatos e figurando no “Guinness Book” como “o chimpanzé mais votado do mundo”.
A atual campanha, além de não ter a mesma graça, apresenta a peculiaridade da polarização extremada entre militantes de esquerda X direita. E como originalidade, o fato de que o primeiro colocado nas intenções de votos está preso, enquadrado na Lei da Ficha Limpa, que impede condenados em segundo grau de concorrer nas eleições. Por ironia, a lei foi promulgada por ele quando presidente.
Por tudo isso, não tem sido fácil para o eleitor se decidir.
Espera-se que a partir de depois de amanhã, com a propaganda no rádio e na TV, haja mais animação.