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Diálogos civilizacionais

 

Mesmo em obras, na sua sede principal, a Organização das Nações Unidas viveu, em Nova Iorque, um dia de múltiplas atrações culturais. Por iniciativa de Marcos Troyjo e Marcos Vargas (Casa do Brasil), em colaboração com a UNESCO, foram comemorados o 10º aniversário do Ano das Nações Unidas para o Diálogo entre Civilizações e o Dia Mundial da Diversidade Cultural (21/05).

As opiniões dos especialistas brasileiros Antônio Campos, Gilberto Freyre Neto, Marcos Troyjo, Arnaldo Niskier e Marcelo Hallak estão sendo reunidas para um documentário de TV e vários programas da Rádio ONU, para transmissão no mundo lusófono. Houve também uma concorrida exposição de obras de arte da pintora brasileira Cristina Oiticica e da escultora colombiana Genevieve Maquinay, com grande comparecimento de público. O título: “Diálogos”. Tivemos, ainda, com autógrafos do autor, o lançamento do livro do poeta e escritor Antonio Campos sobre esse tema.

Um pormenor que chamou muito a atenção dos presentes: a mostra foi realizada no saguão de entrada da ONU, onde ficaram expostos, desde 1957, os famosos painéis de Cândido Portinari, sob o expressivo título Guerra e Paz. Hoje, o trabalho está em processo de restauração no Brasil, com o comando de João Cândido Portinari, filho do genial e consagrado pintor brasileiro (os murais só voltarão para Nova Iorque em 2013, depois de uma itinerância por diversos países do mundo.

Os oradores defenderam com ardor a necessidade de se propagar, especialmente nas escolas, os fundamentos de uma cultura de paz. Cada povo tem as suas próprias características, mas pode e deve existir um diálogo civilizacional, lastreado no entendimento e na cordialidade entre as reações, por maiores que sejam as suas naturais diversidades culturais. Os extremismos são condenáveis e devem ser banidos de uma política de paz, pois somente esta terá condições de promover o crescimento econômico autossustentado.

Duas grandes ideias brotaram desse dia intenso de trabalho em NY: a implementação do Instituto Machado de Assis, para coordenar ações culturais do Brasil no exterior, à semelhança do que fazem o Instituto Camões (Portugal) e o Instituto Cervantes (Espanha). O nosso país cresce, no conceito internacional, hoje integra com Rússia, Índia, China e África do Sul o já famoso Bric, mas patina em termos culturais. O IMA poderia, inclusive, comandar junto à ONU a oficialização do português como língua de trabalho, uma antiga e ainda presente reivindicação dos povos lusófonos, hoje com cerca de 240 milhões de falantes.

Outra ideia, também apreciada, foi o estabelecimento, a partir da ONU/UNESCO, de uma espécie de Lei de Diretrizes e Bases da Educação Universal. Quais os valores comuns a serem ministrados a jovens de todo mundo, com vistas ao fortalecimento da cultura de paz? Com a existência de mecanismos digitais como a internet, facebook, os tablets, etc e sendo o inglês uma língua praticamente universal, deveríamos somar esforços para equalizar as linguagens que conduzam os jovens ao entendimento e à compreensão. Certamente, assim, estaremos construindo um mundo melhor.

Jornal do Commercio (RJ), 3/6/2011