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Diálogo impotente e conflito inevitável

 

A Conferência do Cairo da Academia da Latinidade insistiu na superação dos álibis fáceis para mantermos a rotina de que o mundo não mudou após o 11 de Setembro, e de que enfrentamos, sim, um novo terrorismo à beira talvez da guerra de religiões. Estaríamos a anos-luz do que, ainda ao fim do século passado - e à hora em que celebramos a Queda do Muro -, via-se como o avanço de uma cultura da paz a superação dos botões nucleares e das guerras preemptivas.


Somou-se à Aliança o Alto Comissariado do Diálogo das Civilizações através do ex-presidente Jorge Sampaio, de Portugal, a entender, de fato, o que é a Al Qaeda e este novo jihad, em que a derrubada das torres gêmeas foi como um símbolo vingador da dominação do Ocidente sob o pretexto do império da razão e de toda ideologia do progresso. Não avançaremos ao repetir, tão só, o desejo do diálogo ou o acreditar na reconciliação como dependendo de uma boa vontade intenacional, ou das ações missionárias das ONGs de todos os tipos.

 

A Conferência convocou alguns dos maiores islamitas vivos, como Mohammed Aikoim, especialistas do terrorismo dos nossos (fias, como Gil Anidjar ou Mia Bloom, apoiando-se ainda no pensamento de Edgar Morin, a romper os paradigmas da convencionalidade ao que seja, mais que a troca dos pontos de vista, um desmonte efetivo dos preconceitos e idéias feitas dos mundos hoje em confronto.


Este cansaço do diálogo exprime também a exaustão de alternativas com que o mundo da guerra de religiões é, também, o da falência das utopias para construir efetivos cenários da mudança contemporânea. O atual impasse das esquerdas, debatido, entre outros, por Michel Wieviorka, é dessa exaustão do poder de intervenção econômica do Estado no mundo europeu, esgotado na sua capacidade fiscal, de par com uma visão confim das políticas

migratórias e a falta de efetiva análise política da crise financeira de 2008. Este movimento político, por outro lado, perde-se por vagas teses ecológicas e, sobretudo, por abrir mão do exame mais fundo do que seja a justiça social, nas sociedades da abundância contemporâneas.


A novidade destes dias vai à mudança inédita do império americano. O pior fundamentalismo bushista foi derrubado pela volta às raízes das instituições do país, somando hoje à democracia o pluralismo político, que vence o universo polarizado da globalização, de antes do govemo Obama.


E é esse advento inédito que, de vez, mostra também a obsolescência do chavismo e das equívocas repúblicas boKvarianas, quando cen-

tros e periferias desaparecem no mundo dos BRICs, onde emerge a nova liderança brasileira. Deixamos o pano de fundo latino-americano, na contrapartida de Lula a Obama, no respeito absoluto à democracia, em contraste com os plebiscitos grotescos de Caracas. Voltamo-nos, sim, para esses mercados intemos gigantes, como a Índia e a China, nesta nova dimensão da globalização diversificadora. Damos, neste horizonte, um recado contra os desanimes crônicos e as ideologjas do status quo. O país de Lula é a nação do Bota Família, que colocou, em cinco anos, em nossa economia de mercado, a população de uma Colômbia. Uma nova realidade supera qualquer retórica do velho diálogo e seu domesticado conformismo.


Jornal do Brasil, 11/11/2009

Jornal do Brasil,, 11/11/2009