Ninguém duvida da capacidade de comunicação do Papa Francisco. Suas demonstrações são inequívocas. Agora mesmo, preocupado com o número de ateus e agnósticos existentes no Brasil, inspirou a realização de um encontro, que será dia 7 de abril, no Teatro Municipal do Rio, para discutir o assunto, com a presença de um dos seus grandes colaboradores, o cardeal Ravasi.
Esse fato me lembra a visita feita, em 2000, ao Vaticano, a convite do então cardeal Lucas Moreira Neves, colega da Academia Brasileira de Letras. Eu e a minha mulher tivemos o privilégio de percorrer os lugares nobres da sede da Igreja, ao lado de dom Lucas, que foi um guia excepcional, levando-nos inclusive a conhecer as reformas que então eram feitas na Capela Sistina. Uma visita verdadeiramente inesquecível.
Ao final, fomos ver o Papa João Paulo II, que tinha uma apresentação no auditório Paulo VI, totalmente lotado (seis mil pessoas). Era o Ano Internacional do Esporte. Foi uma grande emoção estar próximo de Sua Santidade, que demonstrou enorme carinho por dom Lucas. Chegou a hora do almoço, e disse ao nosso anfitrião que tinha um compromisso em Roma com outro acadêmico, o escritor Carlos Heitor Cony. Ele se ofereceu para vir conosco: “Tenho uma grande admiração pelo Cony.”
Almoçamos juntos, em clima de grande alegria. Depois da sobremesa, dom Lucas pediu licença para falar a sós por alguns minutos com o Cony. Era um assunto confidencial. Deixei os dois conversando. A despedida foi alegre e com muitas promessas de breve reencontro em nosso país.
Cony sugeriu voltarmos aos nossos hotéis andando um pouco pela linda Roma, de tantos prodígios arquitetônicos. É claro que não perguntei nada sobre a conversa com dom Lucas, mas o bom amigo Carlos Heitor, de longo convívio na revista “Manchete”, acabou não resistindo e me contou: “Ele quer a minha volta à religião!”. Todos sabem que o autor de “Quase memória” foi aluno do Seminário São José. Depois, afastou-se da Igreja e aderiu ao agnosticismo. Agora, não crê em Deus, mas adora Santo Antônio. Acho que é o começo da volta.
Segundo dados oficiais, estamos hoje com uma população de 7,5 bilhões de pessoas, das quais cerca de 700 mil não creem em Deus (ateus) ou evitam quaisquer conclusões não demonstradas (agnósticos). É para essa gente que o Papa Francisco, com a entusiástica adesão do cardeal dom Orani Tempesta, volta suas vistas e resolve realizar uma sessão, no Rio, com o título “Diálogo com o mundo”. Os clientes serão basicamente os que se afastaram das crenças, mas são passíveis de convencimento. Teorias científicas são muito discutidas, é certo, mas princípios bíblicos são eternos, como o pensamento do profeta Isaías: “Não há beleza na destruição, nem mesmo de valores.” Foi com esse espírito que o Papa Francisco visitou há pouco a Sinagoga de Roma, quando disse: “Cristãos e judeus se sentem da mesma família.” De fato, somos todos irmãos.