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Desponta o Brasil africano

 

As decisões de Dilma, na Etiópia, em favor dos países africanos já tiveram o seu impacto nas oposições. O volume do apoio a nove Estados do continente provoca o questionamento do Congresso sobre até onde isso envolve o suporte a empresas brasileiras para as novas obras e, quem sabe, ligadas ao Planalto para a campanha de 2014.

Tal questionamento tem motivação capciosa, para além do concurso a um investimento generalizado do Brasil em áreas em que já encontra, vigorosíssima, a concorrência chinesa. E põe, justamente, em questão a nossa política de largo porte de auxílio ao mundo africano e, sobretudo, numa nova identidade, mais vasta, com as nossas próprias raízes culturais. Aí está a nossa política inovadora com o Haiti, a exigir toda uma nova e sistêmica ação imigratória. Multiplicam-se os atravessamentos de fronteira, especialmente no Acre, diante da crise econômica continuada no país e do avanço inquietante da sua marginalização social. Hesitamos, ainda, nesse quadro de afluxo maciço, na sua limitação objetiva, ou, principalmente, nos seus cantonamentos regionais, a envolver possíveis restrições ao exercício da nova cidadania.

Estaria em causa, nesse favorecimento haitiano, o caminho aberto a identificações supracontinentais do Brasil emergente. E o que sugerem, por exemplo, as novas relações africanas, desligadas do clássico vínculo da língua e da instintiva aproximação com a CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa - da nossa tradição. Estes, como Moçambique, cada vez mais se afastam daquele eixo, ao trocar o português pelo inglês, em sintonia com a sua vinculação à Commonwealth, a partir da África do Sul. Mas é, sobretudo, o nosso liame com Cabo Verde que ora se avoluma, com o reconhecimento e apoio brasileiros à adoção do crioulo como língua nacional.

A riqueza da nova política externa brasileira - e tão para além da crítica oposicionista - não é a de um facilitário assistencial. Mas da redescoberta desses enlaces mais fundos, em que, na visão crítica das desocidentalizações, respondemos ao protagonismo que se espera do Brasil dos BRICS.

Jornal do Commercio (RJ), 14/6/2013