A tese da reeleição para cargos executivos, em si, não contraria a práxis da democracia. Um administrador tem o direito de ser julgado pelos eleitores, submetendo-se à nova avaliação de suas qualidades. Quem ganha leva.
Onde a situação se complica e se torna polêmica é quanto à continuação no cargo durante a campanha. A vantagem do executivo que está exercendo o poder, seja de presidente, governador ou prefeito, é astronômica em relação aos demais candidatos que estão disputando o mesmo mandato.
Antigamente, havia a regra que obrigava o pretendente à reeleição a se afastar da máquina administrativa, ficando em igualdade de condições com os demais pretendentes. A visibilidade é decisiva para empolgar o eleitorado. Mesmo que não se trate de um abuso, a presença constante da autoridade, acoplada a determinado candidato, é carta poderosa para vencer o jogo. Isso sem falar na possibilidade de misturar a visibilidade do cargo com medidas eleitoreiras para angariar votos.
Estamos em fase pré-eleitoral, com a natural movimentação dos candidatos a candidato. A Justiça determinou que a campanha para valer só comece meses antes da data da eleição. Os candidatos sem mandato terão de se submeter à lei, podendo apenas agir nos bastidores para consolidar uma posição na disputa presidencial.
No caso da próxima sucessão presidencial, Lula garante que não será candidato a um terceiro mandato e se empenha até ao pescoço para dar visibilidade à candidata que escolheu para sucedê-lo.
Na prática, e contrariando lei eleitoral, a atual chefe da Casa Civil já está em campanha aberta. Se não for um balão de ensaio ou boi de piranha, a vantagem dela é tamanha que prejudica o ritual democrático.
Folha de S. Paulo (SP) 19/02/2009