Uma das descontribuições de Bolsonaro à língua portuguesa, além do já clássico "talkei", era a forma taxativa de encerrar suas ameaças contra a ordem constituída e as instituições democráticas. Despenteado à moda Hitler e com o desvario de um anormal, bradava "Assunto encerrado!" e, com isso, decretava o silêncio da nação sobre o tal assunto. Assunto quase sempre gravíssimo, como no dia em que, aos ouvidos de militares mochos e apalermados, decretou num palanque à porta de um quartel que não acataria mais a palavra do STF.
Era só bazófia, já que, como depois ficou provado, Bolsonaro não estava com essa bola toda. Da boca cheia de impropérios quando no poder, passou para a boca cheia de formiga, politicamente falando. Mas deixou o mau exemplo, o de se usar afirmações categóricas para evitar a discussão de um assunto. "Sem discussão!", cuspia ele.
É uma característica de muitos que se manifestam pelo monstruoso megafone das redes sociais. Elas estão infestadas de amadores que, julgando-se de posse de um argumento definitivo —quase sempre uma opinião de orelhada ou de um falso óbvio—, fecham seus palpites sobre qualquer tópico com "Simples assim!", "É isso aí!", "Falei, tá falado!", "Agora chega!" e "Vida que segue!". Mas, nas democracias, não é simples assim nem tão vida que segue. Os assuntos foram feitos para serem debatidos, e ninguém tem autoridade para dizer a última palavra —sempre haverá mais um argumento com o rabo de fora.
Eu me pergunto que tipo de convivência teremos em breve com esse estilo autoritário de opinar e como lidaremos com os frustrados que veem seu autoritarismo derrotado ou desmentido pelos fatos. Não me surpreenderia se isso tiver sido o motivador, digamos, dos zumbis do 8 de Janeiro. É o fazer antes e pensar depois, ou nem mesmo pensar.
Simples assim. É isso aí. Falei tá falado. Agora chega. E vida que segue!