No quadro, hoje, do desenvolvimento sustentado vencemos uma nova barreira qual a do fetichismo ambientalista. No âmbito ainda de uma maturação cultural é conhecido o fenômeno da sofreguidão em nos apossarmos, numa primeira sideração dos reclamos das ditas linhas de ponta da civilização ou da modernidade. Ao avançarmos na consciência cívica nacional assumimos a defesa dos direitos humanos, seguido das exigências sociais, da luta contra a exclusão e o empenho da desconcentração da riqueza, herdada ainda da nossa velha condição semicolonial.
O ambientalismo impõe-nos agora, a mudança da convivência não perdulária, nem devastadora, com os recursos do planeta. Como conciliá-lo com a prioridade da luta contra a miséria e a rapidez da melhor e generalizada condição de todos os brasileiros?
Na perspectiva da nossa nova prosperidade, superamos com o ministro Minc a administração anterior do quietismo ecológico, responsável, por exemplo, pelo atraso na liberação do potencial energético no rio Madeira, na justa impaciência manifestada pelo presidente. E de imediato, é todo dossiê amazônico que permite a busca dessa realpolitik entre aqueles imperativos do respeito à terra e a sua transformação em riqueza nacional.
Num pólo do clamor político, deparamos a clássica reclamação das ONGs, que defendem a redoma florestal, a intocabilidade das reservas indígenas e o Brasil edênico para todo o sempre. Confrontamos, de outro lado, o ímpeto do desmatamento, a invasão pecuária e o plantio açodado em que hoje se reúnem os cultivadores da cana, da soja ou dos arrozais de Mato Grosso ou de Roraima. Mais do que isso, decanta-se esta força parlamentar em que a chamada "bancada ruralista" é a mais aguerrida do Congresso no seu poder de bloqueio, inclusive, das iniciativas governamentais.
Blairo Maggi quer plantar soja até os Andes e os arrozeiros invadiram a Reserva da Raposa Terra do Sol. O quadro ecológico envolve o cuidado com a Flona - Florestas Nacionais - e toda a política do acautelamento indígena, na interpretação mais rigorosa da sua defesa constitucional. O que está em causa, de saída, nessa negociação é o próprio redimensionamento geográfico da questão, foi que o próprio mapeamento amazônico ainda mantém faixas desconhecidas do nosso no men"s land.
O conflito se exaspera pela falta do exercício efetivo das baterias legais e da aplicação das penalidades pedidas de uma efetiva fiscalização. No último mês pôde-se reduzir em 60% essa batida do ritmo do desmatamento amazônico. E a passagem da multa para a cobrança rompeu de vez com a preda segura até hoje da sua impunidade
O Supremo Tribunal Federal, nesses dias, dá-nos decisão crítica sobre o conceito da continuidade das reservas indígenas. Até onde o preservacionismo ideal, arraigado na Carta cidadã do dr. Ulysses, transforma-se em barreira objetiva ao uso do solo, e ao plano de manejo que propõe o governo para o aproveitamento amazônico.
A política de desenvolvimento sustentado acaba por completo com o conformismo básico com nosso dintorno e a sua intocabilidade natural. A mudança, de per si, é inimiga de um quietismo natural, e já começa, em nova geração das ONGs, uma visão de cidadania que nos retira da zoeira preservacionista. O ministro Minc, trazendo seu imaginário do bunker carioca, propõe ao país o avanço crítico que nos tira da inocência edênica e da truculência do progressismo dos novos emboabas da soja.
Jornal do Commercio (RJ) 29/08/2008