No Brasil nunca os políticos discutiram com a profundidade devida o problema demográfico, nem apareceu nenhum que o quisesse enfrentar e levantar como uma das preocupações nacionais.
Agora, com as revelações do IBGE e as projeções que fez sobre um Brasil de 2070, com uma população envelhecida e o início do declínio do número de seus habitantes, e as primeiras avaliações na imprensa das consequências dessa nova realidade, destacam-se as repercussões na Previdência Social. Assim, hoje temos quatro contribuintes para cada aposentado; em 2070 teremos uma igualdade trágica de um contribuinte para capa aposentado. Chegaremos a esse ponto porque a longevidade aumentou e a população de velhos superará a de jovens — além, é claro, da crescente informalidade do emprego, já majoritariamente fora da Previdência. Ninguém pode prever como ficará o mercado de trabalho, sendo certo que a mão de obra sofrerá uma forte concorrência das máquinas, embora sejam abertas muitas outras oportunidades e outras demandas de mão de obra que não sabemos exatamente quais serão. Na linha do que insisto há muito tempo, só a qualificação pela educação pode levar o País a ser competitivo e participar do mercado de trabalho do futuro.
Mas a verdade é que, felizmente, não é lógico pensar que os avanços da ciência possam reverter a sua atual destinação de melhorar a saúde e o aumento de anos de vida das pessoas.
Outro problema sério é a intrínseca ligação do meio ambiente com a demografia. Já passamos por várias etapas desse confronto. O primeiro e mais badalado deles, a teoria de Malthus do aumento da população controlado pela fome, pelas guerras ou pelas doenças. Naquele tempo ainda não se vislumbrava a escassez de água, nunca se tinha pensado que poderia faltar, o que hoje é uma alarmante realidade na concorrência do seu consumo, seja com a sua utilização para produção de energia, agricultura e indústria. Embora tenhamos levado um susto com a Covid-19, até agora o malthusianismo tem sido desmentido.
A realidade é que poucos ligam meio ambiente e demografia. Sarney Filho, que é hoje uma das grandes autoridades no assunto e às vezes em alguns aspectos por mim considerado um radical, há muitos anos, logo no princípio de sua militância, foi por mim advertido de que era necessária essa associação, e reagiu sem contestar esta verdade, dizendo que a prioridade de um (meio ambiente) não excluía a do outro (demografia), mas não havia espaço para dividir a luta. Felizmente há muito essa divisão foi superada, e uma das questões centrais da sustentabilidade é a capacidade da Terra de prover alimentos e recursos para toda a imensa população que só se estabilizará no final do século.
Um fanático por controle demográfico era Takeo Fukuda, primeiro-ministro do Japão e figura icônica de grande político, fundador, com Helmut Schmidt, do InterAction Council, que levantava sempre essa bandeira e criticava os preocupados com meio ambiente de esquecer a demografia.
Com as divulgações do último censo a previdência volta a ser lembrada como dor de cabeça constante para todos os governos. Mas não o foi no meu governo, porque a arrecadação da seguridade social foi maior do que os gastos graças ao Plano Cruzado, com desemprego chegando quase ao pleno emprego, as contribuições aumentando, gerando superávit.
Calculem 2070 com um desempregado para cada contribuinte!