Não há dúvida que a invenção dos gregos, criando a democracia, foi um sucesso espetacular para todo o mundo. Basta examinar o funcionamento das boas democracias do mundo para se chegar a essa certeza. Infelizmente, a nossa democracia tem mais defeitos do que qualidades, mas chegaremos lá, numa boa democracia, quando a plantinha tenra de que falava Octávio Mangabeira crescer e ficar frondosa. No momento contentemô-nos em observar as que funcionam bem.
Um dos defeitos maiores da democracia brasileira, que está se fortalecendo, embora ainda falte muito para ser o que desejamos e o que o nosso povo merece, é entregar o poder, como dizia Ruy Barbosa, na A Queda do Império, aos incapazes, em suma, aos incompetentes para as funções que deve exercer. Os exemplos são muitos, mas vamos destacar um deles, embora quem visamos mereça agora o descanso de campanha terminada.
Temos de nos referir ao governo da sra. Marta Suplicy Favre. Até sua ascensão ao poder supremo da capital de São Paulo era uma dondoca da sociedade, na qual brilhava com a posição e a fortuna, a casa estupenda, segundo dizem seus amigos, para receber os automóveis e tudo o mais que faz a felicidade dos abonados deste mundo. A sra. Marta Suplicy Favre, portanto, brilhava, como se estivesse numa ribalta sob o spot light dos observadores.
Foi exatamente isso que a levou à prefeitura de São Paulo a tentar fazer o mais destacado governo, dentre todos os seus antecessores, e a contrair dívidas. Que o nosso jornal titulou "Chuva de dividas", que vão dar trabalho ao futuro prefeito já eleito, José Serra, economista de valor, mas não há mago capaz de fazer surgir dinheiro de onde não há. É o defeito de nossa democracia, e de outras, a entrega do poder a quem não conhece sua estrutura e não sabe como enfrentá-la.
Diário do Comércio (São Paulo) 24/11/2004