As manifestações de rua das últimas semanas tornaram nítida a distância de apoio entre a oposição e o governo. Foram 3 milhões contra 300 mil, num destaque que desarticula todo o equilíbrio da convivência dos dois "Brasis". E a constituição, pelo Congresso, da comissão de impeachment manifestou, de logo, o confronto de muitos de seus componentes com Dilma. De imediato, também, cresce o movimento de alternativa à Presidência de Temer, com a proposta de uma convocatória de novas eleições.
Identicamente, na hipótese de vingar o impeachment, já se antecipam os apoiadores de Temer num programa de governo que seria todo o contrário das premissas do atual regime, implicando, entre outras iniciativas, o avanço das privatizações da infraestrutura e o abandono de qualquer medida de redistribuição de renda. Nesses termos, pois, optaram as esquerdas por convocar novas eleições, medida a depender por inteiro de um plebiscito. Nessa hipótese, mais uma vez, se contraporiam os dois "Brasis". O establishment insistirá, agora, no acesso do vice-presidente e na garantia do programa do status quo defendido pelo PMDB.
O resultado do plebiscito seria categórico, na aprovação da consulta às urnas, como efetiva virada de página do presente impasse, na sequência do impeachment e da confrontação com um eventual governo Temer.
De toda forma, as eleições já trariam, na presente prospectiva, o embate, segundo os atuais prognósticos, em que a liderança é de Marina, chegando em terceiro Lula. O avanço das manifestações de rua traduz também o reforço da vigência do estado de direito, frente aos protestos contra o golpe, a pretexto do impeachment. Cresce a cautela popular contra nova cadeia de cassações sumárias de parlamentares indiciados, ou presumidamente tal, pela Lava Jato. Da mesma forma, finalmente, o presente tsunami, na sua onda moralista, e pela força da opção petista em eventuais novas eleições, não atingiu na medula o "povo de Lula".