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A democracia no México

 

Leio que a democracia no México está correndo perigo. Não estranho.


Em meu livro O Destino da América Latina analisei a formação política, econômica e social do continente luso-hispânico e não tive dúvidas em acentuar qual democracia copiada dos Estados Unidos iria dar razão ao grande ensaísta Haroldo Laski, para quem o presidencialismo americano é mais e menos que uma ditadura, tais os poderes de que está armado o presidente da união estadunidense.


Lembro-me que numa manhã saí do hotel na cidade no México para dar uma volta pela cidade e notei que era um dia de feriado. No táxi que tomei perguntei ao motorista que feriado era aquele e ele me respondeu que era o feriado da Revolução. Perguntei de qual revolução, porque o México tivera muitas, e ele me respondeu: "Da grande, da Revolução de Madero".


Esse Madero - leio em José de Vasconcelos, historiador - era um cristão novo no México e estava na origem do Partido Revolucionário Institucional, filosoficamente uma impropriedade nos termos, pois a revolução deixa de existir como processo quando se institucionaliza.


O México de vários de seus próceres políticos, que não vem ao caso citar aqui, resolveu por termo às revoluções que retaliavam o país e institucionalizou a Revolução, fazendo com que ela tivesse um paradeiro, como teve durante setenta anos. O PRI se estendeu por todo o México e é provável que em cada casa mexicana morasse um membro do partido. Na verdade, esse artifício filosófico deu ao México a oportunidade de se engrandecer e se projetar no futuro como grande nação da América.


É essa democracia que está cambaliante, segundo despacho internacional que li. Cabe aos mexicanos fazer maiores esforços para impedirem o soçobro da democracia, por enquanto uma planta tenra no seu belo país.


 


Diário do Comércio (São Paulo) 10/2/2006