Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos > Democracia e terrorismo

Democracia e terrorismo

 

2014 vem revelando uma crescente perda de controle da União Europeia no tocante à conjunção entre progresso mundial, advento da democracia e respeito aos direitos humanos na plataforma final das Nações Unidas. Desfazem-se as expectativas de avanço do Velho Continente como mediador desses avanços no quadro da globalização.

Contra essas expectativas, aí está o fortalecimento de al-Assad na Síria, com o desbaratamento dos rebeldes e a retomada, inclusive, de financiamentos a Damasco. Mais ainda, começa a correção dos mapas da soberania do começo do século, pelo recurso a processos plebiscitários que levaram à incorporação da Criméia à Rússia e, talvez agora, do Leste ucraniano. Deparamos, também, a determinação de Putin, no confronto mais largo com Obama, pelo descarte de todo intervencionismo europeu nesse equilíbrio global. Ao mesmo tempo, agudiza-se o impasse frente aos terrorismos urbi et orbi, na contradição do Velho Continente no apoio aos militares egípcios, com a derrubada de um governo democraticamente eleito e a condenação à morte de 495 membros do partido de Mursi. A exacerbação do confronto entre xiitas e sunitas desperta na Arábia Saudita um primeiro conflito com a clássica aliança com Washington, a sustentar a defesa dos pluralismos religiosos diante da radicalização do governo de Riad. No pano de fundo do impasse avulta o Irã, em nova relação direta com os Estados Unidos.

A aposta de Obama na intransigente defesa da democracia mostra os seus inesperados resultados na recentíssima eleição do Afeganistão, com a entrada dos talibãs no processo eleitoral. Nos jogos finais de poder desenhados neste quadrimestre, ultrapassam-se, de vez, as polarizações das clássicas guerras frias, dos velhos duopólios mundiais, diante da opção dos nossos dias: da democracia, a todo custo, como detonadora do terrorismo, ou da sua radicalização, de vez, a ter, dramaticamente, como maior aliado, o fundamentalismo republicano, se este voltar a Washington.

Jornal do Commercio(RJ), 25/4/2014