Se fosse possível definir em uma frase esta etapa da campanha eleitoral para a Presidência da República, ela seria uma adaptação da famosa frase de Catão “Delenda Cartago”, instando que a cidade de Cartago, que disputava com Roma a liderança política e econômica da época, fosse destruída.
Pois “Delenda Marina” é a frase que move as campanhas de Dilma e Aécio Neves, com estratégias distintas, mas com o mesmo objetivo. Dilma sabe que hoje sua principal rival é a ex-senadora petista, e quer, no mínimo, vê-la chegar ao 2º turno debilitada.
Já Aécio busca recuperar o segundo lugar na disputa para ir ao segundo turno com chances de vitória. Sua campanha está convencida de que quem for para o segundo turno com Dilma vence a eleição, ainda mais agora com os novos escândalos na Petrobras.
A campanha de Dilma tem sido de uma agressividade reveladora, pois não tem pruridos em explorar até mesmo contradições que não existem, como o suposto menosprezo do programa de Marina pelo pré-sal. Não há nada no programa que indique isso, mas o PT é especialista em criar fantasmas, tática do medo que esteve na raiz de campanhas contra o próprio Lula em 1989 e hoje é usada por seus aliados sem o menor constrangimento.
Collor, hoje aliado político, espalhou boatos contra Lula: ele iria confiscar a poupança, ideia que o próprio Collor tornou realidade depois de eleito. Os apartamentos dos ricos seriam divididos com os pobres. E por aí vai. Hoje, o PT não tem vergonha de comparar Marina ao Collor de 89, embora o Collor de 2014 seja de sua base de apoio no Congresso. E repete a velha e vil manobra de acusar Marina de querer privatizar a Petrobras, que já deu certo em 2006 contra Geraldo Alckmin.
Desta vez, o efeito tende a ser menor, pois, além de a acusada ser uma política oriunda do petismo e da esquerda, os problemas da Petrobras estão justamente na “privatização” branca da estatal feita pelos petistas e partidos aliados, que gerou uma série de escândalos de corrupção cuja investigação em curso ainda deve dar muito o que falar.
Os vazamentos dos depoimentos do ex-diretor Paulo Roberto Costa, retirado de uma “geladeira” na companhia para, durante 8 anos de gestão petista com Dilma Rousseff à frente da área de energia, capitanear um mega esquema de corrupção para financiamentos de partidos políticos, estão reafirmando a face mais perversa dessa “velha política” que o PT aprofundou ao chegar ao poder.
Por duas vezes, aliás, essa prática foi admitida implicitamente pela própria presidente Dilma, ontem na entrevista ao “Estadão”, e pelo ministro Gilberto Carvalho. A presidente disse: “Se houve alguma coisa, e tudo indica que houve, eu posso te garantir que todas, vamos dizer assim, as sangrias que eventualmente pudessem existir estão estancadas".
Já o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, elaborou uma tese sobre o caixa dois das campanhas: “Enquanto houver financiamento empresarial de campanha e a campanha se tornar momento de muitos ganharem dinheiro e movimentar muito recurso, quero dizer que não há quem controle a corrupção enquanto houver este sistema eleitoral. E isso é com todos os partidos, não há, infelizmente, nenhuma exceção”.
Os dois, portanto, tentam reduzir a importância do que acontece nas entranhas do governo, da mesma maneira que Lula tentou relativizar o mensalão dizendo que era uma prática que “todo mundo faz”.
Já Aécio, que andou batendo forte em Marina a ponto de ter provocado nas hostes da adversária a advertência de que a possibilidade de acordo num segundo turno e num futuro governo estava comprometida, vai calibrar a pontaria mais em Dilma do que em Marina na questão da Petrobras, na certeza de que “esse escândalo é dela”.
Marina, envolvida nessa trama indiretamente devido à citação do falecido governador de Pernambuco Eduardo Campos, vai continuar sendo atacada na alegada inexperiência e nas contradições de seu programa de governo “porque nós precisamos ganhar a eleição”.
Na avaliação da campanha de Aécio, deixar que só a presidente Dilma ataque Marina seria abrir mão de disputar a vaga no segundo turno a favor de Marina, em busca de um acordo futuro.
Mesmo não prescindindo desse eventual acordo, Aécio não pretende abrir mão da chance que vê de retomar a disputa presidencial, na esperança que um segundo turno será especialmente difícil para a presidente Dilma, diante das informações sobre o esquema de corrupção que devem circular nesses próximos 45 dias de campanha.