O debate da Band acabou
Será em vão que Lula pedirá um confronto de fundo sobre programas de governo. Ou que Alckmin escape da estrita perspectiva paulista, no dizer a que veio. Nem o mero arrolar de cifras ganhará qualquer afrodisíaco para uma mudança de voto. Foi-se à rinha inesperada da agressão, em todos os seus esporões verbais.
A contundência não foi ao golpe de temas, nem à convicção do dito, mas a atitude ou ao "caras e bocas", próprias a um programa de auditório. Respostas lidas ou decoradas; afoiteza ou tatibitate, a faltar só ataques mútuos sobre a indumentária, ou à cor das gravatas dos adversários.
No jogo só de pontos perdidos, fica a competição por quem mais avançou, no acusar o outro de mentiroso. Mas o gesto largo coube, de qualquer forma, ao presidente, quando cobrou a discussão engasgada; pediu abertura de horizontes, sempre retrancada por Alckmin, ou jogou sem concessões, na amplitude do confronto entre o seu governo e o do antecessor.
Uma impressão final, no bater do martelo, é a de que, se a corrupção é generalizada e se incrustou no sistema de poder brasileiro, no governo Lula começa a averiguação e a polícia diz a que vem, e algema.
O candidato da oposição mostrou também que não têm mais bala na manga, tanto de fato o moralismo sova o seu argumento logo. Não há mais dinheiro nas gavetas para trazer ao vídeo.
Qual a munição final dos tucanos? Não gastou Lula mais em viagens que FHC. A acusação já foi às temeridades inadmissíveis, num percurso fatal, como o do tiro no vídeo - ou no pé.
Perderam-se os contendores na floresta de siglas e no febeapá das políticas de educação, sem que Lula pudesse salientar o essencial. O percento hoje do país pobre que chega de fato ao ensino superior dobrou sobre o anterior.
A acusação da mentira é a mais promíscua, neste tipo de debate-limite. Repete-se. Mas um debate rui quando um contendor já aposta sobre o nível de consenso da opinião pública; entre argumentos surrados, e trampas da bobagem. O "aero-Lula" foi, de vez, enterrado como sandice sem direitos a coroas. Num quadro de subcultura também, afinal, se viram páginas.
Esta eleição tem o número mínimo já de indecisos. E menor, ainda, de néscios ou ingênuos,
Jornal do Commercio (Rio de Janeiro) 13/10/2006