A melhor chance de Boulos vencer a eleição para prefeito de São Paulo é ter o coach Marçal como adversário no segundo turno. Contra Nunes, as chances de Boulos se reduzem. Contra Marçal, a fama de radical de Boulos se esvazia. Marçal é Bolsonaro ao quadrado, ou Bolsonaro de volta ao futuro. Foi eleito presidente da mesma maneira que Marçal se apresenta hoje, sem apoio político formal, usando e abusando das mídias sociais, refletindo um sentimento bruto dos eleitores contra “o sistema”, ao qual serviu durante vários mandatos parlamentares, mas que o relegou ao fundo do plenário da Câmara, no baixo clero que disputava as sobras dos privilégios dos deputados e senadores “do sistema”.
Lançou-se candidato à Presidência da República pensando em ficar conhecido, contra tudo e contra todos, e acabou vencendo, num momento em que o eleitor médio queria sangue, não acordos ou moderação. Continuamos nesse clima de guerra em São Paulo, mais do que nunca representado por candidatos apoiados por Lula e Bolsonaro. A fama de Boulos o precede. Apesar da retórica moderada de agora, é visto como mais radical até do que Lula, a besta-fera da direita.
Ao contrário, Nunes não é o candidato dos sonhos de Bolsonaro, como o próprio confessou recentemente. Não reflete nem de longe a agressividade e brutalidade dos Bolsonaros, mas tem a máquina municipal e muitas obras para mostrar. Diante de Marçal, o prefeito em busca da reeleição parece um candidato do centro, caindo um pouco para a direita, com muita dificuldade, diga-se. Não que seja de esquerda, longe disso, mas não é à toa que está perdendo eleitores dentro dos bolsonaristas, apesar da contrariedade de Bolsonaro.
Se continuar assim, não será surpresa se Bolsonaro voltar às origens e apoiar Marçal, com todos os riscos que isso representaria. Marçal disputa os eleitores com o próprio Bolsonaro, que ainda pensa ser possível uma candidatura em 2026. No momento, não há nada que indique essa possibilidade. Ainda mais agora que Bolsonaro anuncia sua presença na manifestação de 7 de setembro convocada especialmente para pedir o impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Qual é o clima político que permitiria uma anistia a tempo de Bolsonaro disputar a eleição de 2026? Com tantos candidatos da direita surgindo como possíveis postulantes à Presidência da República, difícil achar um que abra mão efetivamente da reeleição, se eleito. Não creio que isso aconteça, embora, em algum momento depois da eleição de 2026, ganhando um representante da direita, Bolsonaro possa vir a ser anistiado.
Na política, como na vida, no entanto, há sempre senões. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ou outro candidato da direita, eleito presidente da República, terá interesse em anistiar Bolsonaro? Na prática, não seria necessário, pois o ex-presidente estará apto a disputar eleições em 2030. Mas uma reabilitação oficial teria um efeito simbólico importante para o ex-presidente. O presidente de direita eleito em 2026 terá interesse em ter Bolsonaro como seu adversário à reeleição em 2030? Marçal, eleito prefeito de São Paulo, teria interesse na anistia a Bolsonaro quando ele próprio poderá se lançar candidato à Presidência em 2026?
Esse fantasma, aliás, vem assustando os assessores do ex-presidente, que no momento está disposto a dobrar suas fichas no apoio ao prefeito Ricardo Nunes que, por sua vez, terá que investir mais na direita radical para se contrapor a Marçal e ao radicalismo de esquerda de Boulos — que, no entanto, tenta se distanciar da imagem radical do início da atuação do Movimentos dos Sem-teto (MST) para se apresentar, como Lula fez na eleição de 2022, como o defensor da democracia. Deu certo com Lula, não sei se dará certo com Boulos, especialmente depois que o atual presidente relegou um governo de centro democrático para fortalecer a esquerda do seu partido. Mas tendo Marçal como adversário no segundo turno, crescem as chances de Boulos.